Catas Altas: um refúgio mineiro onde não falta o que fazer

Conhecemos Catas Altas por acaso, folheando um livro sobre cidades históricas de Minas que ganhamos em um posto de informações turísticas em Congonhas. Entre tantos destinos que nos encantaram, o Santuário do Caraça foi o que saltou aos nossos olhos. Nunca tínhamos visto nada parecido no Brasil e nos espantou o fato de estarmos tão perto de lá e jamais termos ouvido falar a respeito desse lugar.

Vimos que o mosteiro não era o único atrativo de Catas Altas. A cidadezinha de 5 mil habitantes tinha muito mais a oferecer, embora os artigos sobre ela sejam escassos na internet. Dessa forma, achamos que seria melhor procurar um guia local para uma experiência mais completa e assim encontramos a Circuitos Turismo, que gentilmente nos apresentou a cidade e nos passou informações valiosas, que hoje compartilhamos com vocês neste roteiro. Atualização em dezembro de 2017: a empresa Circuitos Turismo foi fechada.

Onde ficar em Catas Altas?

Nossa recomendação de hospedagem em Catas Altas é a Pousada Solar dos Guaras*, que tem ótimas avaliações no Booking e é muito completa em comodidades. Ela conta com Wi-Fi gratuito, estacionamento privado, salão de jogos e também quartos para famílias.

* Em 17 de março de 2020, identificamos que a Pousada Solar dos Guaras não estava mais disponível para reservas no Booking e por isso seu link foi removido. Você pode pesquisar por hospedagem em Catas Altas no botão abaixo.

Hospedagem em Catas Altas

Matriz de Nossa Senhora da Conceição

Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Catas Altas, Minas Gerais
Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Catas Altas, Minas Gerais. Créditos: Gisele Rocha

Começamos o nosso passeio pela Matriz de Nossa Senhora da Conceição, que fica na praça principal de Catas Altas.

Já visitamos incontáveis igrejas barrocas em Minas Gerais (se você acompanha o nosso Instagram, já deve ter visto algumas delas), mas a Matriz de Catas Altas tem um diferencial. Sua construção teve início no século XVIII e demorou 90 anos para ficar como está hoje, mas jamais será concluída. Isso porque com o esgotamento das minas e a consequente decadência do Ciclo do Ouro, os recursos para as obras da igreja foram se esvaindo.

Note nas fotos abaixo que a parte mais próxima do altar está com a pintura finalizada, com muitas cores e riqueza nos detalhes. Já a área central, próxima aos púlpitos, encontra-se com uma camada de tinta branca, que era a cor usada como base para as esculturas. Já a parte posterior da igreja e o teto estão em madeira crua, sem qualquer acabamento. Como a Matriz foi tombada como Patrimônio Histórico, não é permitido nenhum tipo de intervenção que a descaracterize.

Mesmo inacabada, a igreja guarda em seu interior obras de arte de valor inestimável, atribuídas a Alejadinho, Mestre Ataíde e Francisco Vieira Servas.

Outro fato interessante sobre a construção está relacionado à pia batismal. Segundo o que a nossa guia nos explicou, a pia era fixada longe do altar porque a Igreja via essas crianças como pagãs, não sendo dignas ainda de frequentarem a igreja.

Ainda dentro da igreja, notamos alguns números no chão, que correspondem às lápides de figuras ilustres e abastadas da região de Catas Altas. Em Minas essa prática era comum, mas devido a proliferação de pragas e das doenças que transmitiam, os corpos precisaram de ser transferidos. Somente a Matriz manteve os restos mortais dos fiéis ali sepultados, então considere que você está caminhando sobre eles quando estiver lá. :)

Na saída da igreja, descobrimos mais uma particularidade de Catas Altas. A cidade ainda mantém o seu “sineiro”, uma profissão muito rara nos dias atuais. O sineiro é a pessoa incumbida de badalar o sino, avisando sobre as horas, o início das cerimônias e até sobre o falecimento de um morador. São 38 toques diferentes, que o pessoal da cidade conhece muito bem.

Capela de Santa Quitéria

A Capela de Santa Quitéria, em Catas Altas, só fica aberta ao público uma vez ao ano, em maio
A Capela de Santa Quitéria, em Catas Altas, só fica aberta ao público uma vez ao ano, em maio. Créditos: Viajei Bonito

Nossa segunda parada em Catas Altas foi na Capela de Santa Quitéria, construída também no século XVIII. Infelizmente, ela só é aberta para celebração de missas uma vez por ano, durante os festejos dedicado à santa que acontecem em maio e duram uma semana inteira.

Ao lado da igreja estão enterrados os restos mortais do capitão Edward Hosken. Naquela época, as pessoas endinheiradas eram sepultadas dentro da igreja. Diziam que quanto mais perto do altar, mais próximo o espírito estaria de Deus. Porém, embora fosse muito rico, o capitão não era católico e por isso foi impedido pelo Monsenhor Mendes de ser colocado no interior da Matriz, restando-lhe um cantinho nos jardins da charmosa capela.

Igreja do Rosário

A simpática Igreja do Rosário em Catas Altas, Minas Gerais
A simpática Igreja do Rosário em Catas Altas, Minas Gerais. Créditos: Gisele Rocha

A religiosidade sempre foi muito presente na vida dos mineiros, sobretudo nas cidades pequenas, e assim fomos colecionando tesouros. A Igreja do Rosário é um desses.

Ela foi construída pelos negros que faziam parte da irmandade Nossa Senhora do Rosário, já que eles não podiam frequentar os mesmos espaços que os brancos ricos. Não tem a mesma pompa que a Matriz, nem recebe festas anuais como a Capela de Santa Quitéria, mas o que nos chama atenção é justamente a sua simplicidade. Nas paredes desgastadas, o passar dos anos fica evidente. A obra, segundo a indicação da fachada, é de 1862.

Pecado não termos conseguido vê-la por dentro também, mas pelo que nos foi dito, o altar foi esculpido em estilo D. João V e continua muito bem preservado. Fica para uma próxima.

Cachoeiras

Nada no mundo é tão revigorante quanto um banho de cachoeira. E mesmo com um frio de doer, nós não resistimos em conhecer a Cachoeira da Santa, a mais próxima da praça da Matriz. Daria para fazer um roteiro só com as quedas d’água de Catas Altas, entre as quais destacamos a Cachoeira do Quebra-Ossos, a Cachoeira do Valéria, a Chapada do Canga, a Maquiné e o Vale das Borboletas, onde só é permitido entrar com a presença de um guia local. Quem sabe voltamos no verão para conhecer todas elas?

Não esqueça de levar uma toalha para se enxugar, pois a água é muito fria. Leve também o que for comer, caso decida passar o dia em algum desses lugares, e recolha o lixo quando for embora.

Santuário do Caraça

Santuário do Caraça, na divisa entre Catas Altas e Santa Bárbara, Minas Gerais
Santuário do Caraça, na divisa entre Catas Altas e Santa Bárbara, Minas Gerais. Créditos: Gisele Rocha

O ponto máximo da nossa viagem a Catas Altas foi sem dúvidas a visita ao Santuário do Caraça, ao qual dedicaremos um post inteiro. Fundado em 1774 como hospedagem para peregrinos, ali encontra-se a primeira igreja neogótica do país, muito bem preservada, cercada por um belo jardim, montanhas e incontáveis cachoeiras.

No complexo do Santuário ainda pudemos visitar um museu e uma biblioteca que ficam no prédio do antigo colégio que formou figuras importantes da história brasileira, entre elas dois ex-presidentes (Afonso Pena e Artur Bernardes). Visitamos também o claustro e o calvário. Quem se hospeda ali pode ser surpreendido pela visita dos lobos-guarás, que são alimentados pelo Padre Lauro, morador e cuidador do mosteiro.

Bicame de Pedra

Encerramos a nossa viagem a Catas Altas com uma visita ao Bicame de Pedra, um aqueduto construído por escravos em 1792 com o objetivo de captar água da Serra do Caraça e levá-la até as fazendas de mineração, onde o ouro extraído na região era lavado.

O Bicame foi erguido em pedra, areia e óleo de baleia, e continua lá inteirão, inabalável. Originalmente ele tinha 13 km de extensão, hoje restam pouco mais de 100 metros. Dá até para subir os degraus laterais e observar o canal por onde a água passava. Se estiver sem pressa, estique-se na grama e relaxe contemplando a paisagem ao redor, ou aproveite para fazer um piquenique. Só não se esqueça de recolher o lixo depois.

Vale ressaltar que o Bicame de Pedra fica a 12 km de distância de Catas Altas e o deslocamento é feito por estrada de chão muito bem conservada, mas pouco sinalizada. Como estávamos com um guia que conhece bem o caminho, não passamos aperto, mas se você for por conta própria, pode ter um pouco de dificuldades.

Leia mais sobre Catas Altas no diário de viagem “de Bike pela Estrada Real”

Onde e o que comer em Catas Altas?

Nos restaurantes de Catas Altas prevalece a culinária mineira, embora seja possível encontrar um pouco de tudo. Acostume-se com o ritmo das pequenas cidades, onde as pessoas almoçam muito cedo. A partir das 11h a comida começa a ser servida e por volta das 14h já não há mais reposição.

Dentre tantas opções, escolhemos a mais prática: um self-service na praça da Matriz, no restaurante Pico do Sol. A comida estava excepcional e pagamos muito pouco. O prato da Gisele custou pouco mais de R$4!!!

Para quem está em um ritmo mais lento e pode desembolsar um pouquinho mais, existem outras opções bem avaliadas, como o restaurante do próprio Santuário do Caraça, ou outros mais centrais como Casa de Taipa, Confraria Cultural, Histórias Taberna e Rancho do Pote.

Não deixe de experimentar o doce de jiló, uma iguaria muito apreciada por ali. O gosto é muito parecido com doce de figo em calda. Delicioso!

O que fazer em Catas Altas à noite?

Infelizmente não pudemos pernoitar em Catas Altas. Tínhamos uma reserva na Pousada Solar dos Guarás, mas precisamos voltar para Ouro Branco no mesmo dia. A vontade de ficar era grande, já que com o frio e o sereno a noite ficou convidativa para um vinho de jabuticaba, uma produção local comparada aos renomados vinhos do Porto.

Embora não pudéssemos ficar, pedimos sugestões de programas noturnos para os guias da Circuitos Turismo, que indicaram o La Violla, uma cervejaria que fica ao lado da agência. Segundo eles, o cardápio está repleto de pratos e porções deliciosos, mas o ponto forte são as cervejas artesanais. A carta apresenta mais de 400 rótulos, com cervejas do mundo inteiro.

Ainda na Praça Monsenhor Mendes, passamos em frente ao Café Bistrô Cateretê. Ficamos sabendo que ali a música é da melhor qualidade, com direito a apresentações no piano e shows ao vivo com artistas da região.

Para além dos restaurantes e bares, Catas Altas é uma cidade festeira, com costume de sediar diversos eventos que fazem a combinação perfeita entre música e gastronomia, sendo a Festa do Vinho de Jabuticaba a mais tradicional. Consulte a página da Prefeitura para ficar por dentro da agenda da cidade.

Boa viagem!

Catas Altas: um refúgio mineiro onde não falta o que fazer

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22 pensou em “Catas Altas: um refúgio mineiro onde não falta o que fazer

  1. Tem tempos que estou ensaiando uma viagem para Catas Altas, quero muito conhecer o Santuário do Caraca! Aí parece essas cidadezinhas de Minas ideal pra um bom descanso e para curtir a natureza com simplicidade.

    1. Lid, você vai se encantar por Catas Altas. Nosso post sobre o Santuário sairá em breve. Foi o ponto alto do passeio, embora descobrir sobre a história da Matriz tenha sido fascinante também.

      1. Amei seu post, já marquei de ir agora no fds. Quando vai sair seu post do caraca? Queria ler antes de ir e saber das dicas. Esses locais turísticos que vc disse são todos perros?

  2. Que cidade fofa!!! Já tinha ouvido falar dela, mas não imaginava que ela era tão simpática assim… Já quero conhecer!!!

  3. Olha só que lugar lindo! Nunca tinha ouvido falar de Catas Altas. Já fomos em Ouro Preto e Tiradentes, mas agora deu vontade de ir lá também. Lindinha demais. Obrigada por compartilhar.

    1. Michela, vale a pena dedicar uns 4 dias para Catas Altas e região, pra visitar Santa Bárbara, Cocais e Brumal, que infelizmente não tivemos tempo para conhecer. O feriado de 7 de setembro tá aí! Quem sabe você não se anima?

  4. Que roteiro mais completo e que lugar mais incrível, adoro ficar sabendo de lugares novos, acompanhado de uma experiência tão bacana. Fica em um distância boa de Ouro Preto, já quero incluir no meu roteiro na região, que é um pecado mais ainda não conheço.

  5. Que post maravilhoso! Sou apaixonada pelas cidades históricas e não conhecia Catas Altas. E obrigada por detalhar tão bem as atrações… perfeito

    1. Manu, até onde sabemos, não existem hostels em Catas Altas. Na cidade, a pousada que tem o melhor custo-benefício é a Solar dos Guarás https://goo.gl/8Vzwah.
      Se estiver de carro, uma boa alternativa é ficar no Hotel Real, em Barão de Cocais https://goo.gl/5t84bt.
      Sobre campings, encaminhei uma mensagem para a Secretaria de Turismo da cidade e assim que houver uma resposta, repasso pra você. :)

  6. Gente, primeiramente belo post! Espero que não tenha chegado atrasado hahaha

    Eu pretendo passar por Catas Altas em agosto, mas quero ir de Ouro Preto e vou estar sem carro, só na base de bus. Não consegui encontrar nenhum ônibus que saia de Ouro Preto e vá pra lá… você sabem como eu consigo chegar lá?

    1. Parabéns pelo post! Gian você chegou a ir de ônibus a partir de Ouro Preto? Poderia me informar? Como fez para chegar/sair de ônibus?
      Depois deste post tenho urgência em conhecer!

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