O que esperar do Museu da Vodka, em São Petersburgo
A semana começa com uma novidade no Viajei Bonito. Pela primeira vez, estamos participando da blogagem coletiva organizada pela Rede Brasileira de Blogueiros de Viagem (RBBV), a qual nos afiliamos recentemente. Já que hoje começa a Museum Week, nada mais justo que escrevermos sobre os museus que mais gostamos.
Vocês, caros leitores, já devem ter percebido através de outros artigos publicados que nós dois, Adriano e Gisele, somos muito bons de copo. Já escrevemos sobre uma volta ao mundo de gole em gole e agora, para celebrar a Museum Week, apresentamo-lhes o Museu da Vodka de São Petesburgo.
Quando se fala em Rússia, a primeira coisa que vem à cabeça é vodka! E não é à toa. A bebida foi o principal motivo pelo país ter se convertido ao cristianismo (sério!) e pautou uma série de normas e costumes. Sendo assim, não poderíamos passar pelo país sem visitar o museu que conta a história dessa Bendita.
Navegue pelo post
Sobre o Museu da Vodka
Para entender o que está sendo apresentado, é imprescindível comprar o audio guide, pois não há qualquer legenda explicando o significado das peças. Se você resolver fazer o passeio pelo Museu da Vodka sem o auxílio do audio guide, sua experiência se resumirá em ver um monte de quadros, documentos, copos e garrafas vazias, mas não entenderá nada sobre a história da bebida.
Os áudios estão disponíveis em russo, inglês, espanhol e francês. Optamos pela versão em inglês, mas não sabemos até que ponto a escolha foi acertada, já que a narradora tinha um sotaque muito carregado e estava comendo enquanto lia a história. Era possível ouvir até o som das páginas sendo folheadas e alguns barulhos de erro do Windows. Dava pra ver que o guia foi gravado de forma bem amadora, mas era isso ou ficar sem entender nada do que estava sendo visto. Talvez em outros idiomas não seja assim, então sugerimos tentar a versão em espanhol.
O acervo
O acervo do Museu da Vodka é organizado em ordem cronológica, contando desde como era feito o plantio dos grãos, passando pela evolução nas técnicas de destilação, abordando também conflitos religiosos e políticos envolvendo a bebida, até chegar, por fim, aos dias atuais.
Cada nicho tem um número e é através dele que vamos acompanhando o áudio. Infelizmente, não é possível voltar às faixas caso alguma informação não tenha sido bem assimilada, pois são divididas em blocos muito longos. É preciso prestar bastante atenção, principalmente pela baixa qualidade do arquivo.
A história da vodka
Iniciamos o nosso passeio pelo Museu da Vodka aprendendo que os russos começaram a produzir a bebida quando o país foi invadido pelos europeus. Eles, os russos, viram os invasores produzindo vinho a partir da uva, porém o clima frio do país não favorecia o plantio dessa fruta. E foi assim que começaram a tentar algumas combinações com grãos e a testar tipos de destilação.
[vb_gallery ids=”4082,4093″]
Acontece que durante um tempo, grande parte da população russa era islâmica, que proibia veementemente o consumo de álcool, levando a uma série de conflitos, vez que os russos já bebiam demais.
Foi assim que o monge Isidor fez história. Ele chegou à Rússia junto com uma delegação italiana e pregava que iria mudar a religião do islamismo para o catolicismo. Ele foi acusado e preso. Entretanto, por se tratar de um monge, permitiram que ele continuasse fazendo experimentos com a fermentação e assim ele criou uma bebida que foi, vamos dizer, a mãe da vodka. Aparentemente, ele usou essa bebida para embebedar os guardas e fugir da prisão.
E não deu outra, o Grand Prince Vladimir escolheu o cristianismo como religião oficial da Rússia porque, ao contrário do islamismo, ela não condenava o consumo de álcool. E assim nasceu uma nação de beberrões que se orgulha muito disso.
Recusar-se a beber era tido como uma grave ofensa e aqueles mais resistentes ao álcool eram vistos como mais fortes, logo, eram mais respeitados. Por outro lado, os que tinham baixa tolerância ao álcool eram ridicularizados.
Woman power: a vodka como um mercado lucrativo
Dizem que assim como todas as alemãs, Catarina, a Grande, foi uma mulher de negócios. Durante o seu reinado, ela modernizou a Rússia e fez com que o país se tornasse uma das maiores potências europeias. Foi ela quem enxergou o potencial econômico da vodka e então sugeriu que os produtores começassem a ter um tipo de registro, como uma espécie de alvará de funcionamento. Quem quisesse fabricar, teria de comprar a permissão para isso.
Sabores e formas diversificados
Com a concorrência, começaram a fazer concursos de produtores e assim nasceram as vodkas diferentes, com processos distintos de destilação e armazenamento, criando vários sabores. Além disso, passaram a fazer drinks para as competições, onde as pessoas tinham que adivinhar de qual tipo de vodka se tratava.
Vodka: sem ela não dá para ficar
Um fato inusitado ocorreu após a visita de um imperador russo à Itália após a guerra quando levou vodka em uma visita amigável. Os soldados italianos começaram a se viciar e a população começou a ficar assustada, pois os soldados bebiam vodka até a morte.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o czar Nicolau II proibiu a produção e consumo de bebidas alcoólicas na Rússia a fim de mobilizar o povo para o embate, entretanto, isso nunca foi empecilho para deixar de beber vodka, visto que eram contrabandeadas. O único problema é que a qualidade foi perdida. As empresas que produziam vodka eram tidas como inimigas do Estado.
É válido dizer que essa proibição resultou na perda de um terço das receitas do governo e causou uma crise econômica – culminando na Revolução Socialista liderada por Lênin.
No período em que a Rússia era socialista, a população recebia uma quantidade pré-estabelecida de vodka por pessoa, até porque a bebida era essencial para as pessoas sobreviverem ao frio.
A vodka se popularizou e os restaurantes começaram a servi-la para a população em geral. Antes somente os czares e militares podiam tomar as de boa qualidade.
Já nos anos 80, o líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, tentou conter a bebedeira com inúmeras restrições, incluindo a redução da oferta de vodka, aumento do preço e demissão de pessoas que apareciam para trabalhar bêbadas. No entanto, isso teve mais efeitos negativos do que positivos, visto que as pessoas passaram a se drogar e ingerir bebidas ainda mais tóxicas, como perfume, anti-sépticos e produtos de limpeza. A campanha anti-álcool foi abandonada oficialmente em 1988.
Putin também tem lutado para reduzir a taxa de alcoolismo no país, mas precisou fazê-lo com cautela porque qualquer providência que envolva o álcool é impopular e pode arruinar todo um governo, como vimos em vários exemplos anteriores. O que conseguiu fazer até agora foi aumentar o preço dos produtos alegando que a medida visa combater a venda de produtos falsificados.
A (tão esperada) degustação
Depois de aproximadamente 1 hora e meia aprendendo sobre a história da vodka, já era tempo de degustá-la. Nos foram oferecidos três tipos: a da esquerda é a mais forte e a da direita a mais fraca, devido ao processo de destilação. A do meio tem sabor de mel e baunilha, foi a melhor na nossa opinião. Elas foram servidas com picles, queijo e peixe, respectivamente.
O museu fica anexo a um restaurante (não muito conveniente para quem está viajando no modo econônimo) e quem quiser pode continuar a experiência por lá. Eles têm um vasto cardápio com mais de 240 tipos de vodkas, mas aconselhamos moderação. Ouvimos dizer que o strogonoff desse restaurante é simplesmente divino, mas não experimentamos.
[vb_gallery ids=”4132,4133″]
Agora, a pergunta que não quer calar: vale a pena visitar o Museu da Vodka em São Petersburgo?
Bom, se você leu o post todo para entender a história da vodka e não faz questão de ver as peças com seus próprios olhos, nossa dica é que você vá ao mercado mais próximo e parta logo para a degustação. O Museu da Vodka, de fato, é algo comercial e não educativo.
Porém, se você tiver um guia (em pessoa, não o audio guide), poderá ser um passeio bem interessante, pois ele contará fatos da história da Rússia que nós deixamos de mencionar aqui.
Se estiver de passagem pela cidade, não deixe de ler nosso guia completo de hotéis e albergues em São Petersburgo.
Informações úteis sobre o Museu da Vodka
Preços dos ingressos
Visita simples, sem audio guide e sem degustação: 170 rublos (R$9,20)
Visita com audio guide: 350 rublos (R$19)
Visita com audio guide e degustação: 500 rublos (R$27)
*preços praticados em março de 2016
Horário de funcionamento
Diariamente, das 11h às 22h.
Endereço
4, Konnogvardeisky Boulevard
Pegar o metrô até a estação Admiralteyskaya.
Se você for um rato de museu, vai enlouquecer com todas as atrações apresentadas pelos outros blogs da RBBV para a #MuseumWeek. São mais de 50 museus em 22 países diferentes. Listamos todos eles de acordo com a localização para você não se perder. Divirta-se e boa leitura!
Brasil
Alcântara
- Museu Histórico de Alcântara – Estrangeira
Brumadinho
- Inhotim – Coisos on the go
Curitiba
- Museu Oscar Niemeyer (Museu do Olho) – Devaneios de Biela
Petrópolis/RJ
- Museu Imperial – E aí, Férias!
Porto Alegre
- Fundação Iberê Camargo – Viagens que Sonhamos
- Museu de Ciências e Tecnologia da PUC-RS – Vida de Turista
- Museu Julio de Castilhos – Mel a Mil pelo Mundo
Recife
- Museu do Frevo – Cantinho de Ná
São Paulo
- Museu do Futebol – O Melhor Mês do Ano
América do Sul
Chile
Santiago
- Museo Chileno de Arte Precolombino – Gastando Sola Mundo Afora
Peru
Lima
- Museu da Inquisição – De Mochila e Caneca
América do Norte
Estados Unidos
Anchorage
- Museu de Anchorage, Alaska – Felipe, o pequeno viajante
Atlanta
- Fernbank Museum of Natural History – Família Viagem
Austin
- Lyndon Johnson Presidential Library and Museum – RenataPereira.tv
Miami
- Vizcaya Museum – Fica Dica Viagens
San Francisco
- Melhores Museus de San Francisco – Ideias na Mala
Mexico
Cidade do México
- Casa-museu de Frida Kahlo e Casa-estúdio de Diego Rivera – Eu Sou à Toa
Europa
Alemanha
Berlim
- 5 museus inusitados em Berlin – Viajoteca
- Ilha dos Museus – Tá indo pra onde?
- Museu do Holocausto ou Memorial aos Judeus Mortos da Europa – Pelo Mundo Com Vc
Dachau
- Visitando o Campo de Concentração em Dachau – Já Fomos
Bulgária
Sofia
- Museu Nacional de História Militar – Escolho Viajar
Croácia
Zagreb
- Museu Croata de Arte Primitiva – Rodinhas nos Pés
Espanha
Barcelona
- Fundación Joan Mirò – Sol de Barcelona
Santillana del Mar
- Museo de Altamira – Esto Es Madrid, Madrid
França
Paris
- Antigo Egito no Museu do Louvre – Apure Guria
- Louvre – Destinos por onde andei
- Museé D’Orsay – Viagem LadoB
- Museu do Louvre X Museu d’Orsay – SOSViagem
Meudon
- Musée Rodin – Direto de Paris
Grécia
Atenas
- Museus de Atenas – Fourtrip
Ilha de Delos
- Museu Arqueológico de Delos – Viaje Sim!
Hungria
Budapeste
- Museu do Terror – Juntando Mochilas
Inglaterra
Londres
- Madame Tussauds – Mochilão Barato
Itália
Florença
- Corredor Vasariano – Grazie a Te
- Palazzo Pitti – Passeios na Toscana
Roma
- Galleria Borghese – Roma Pra Você
- Museus do Vaticano – Vou pra Roma
Malta
Valeta
- Palácio dos Grandes Mestres e Armaria – Viagens Invisíveis
República Tcheca
Praga
- Museu do Comunismo – Trilhas e Cantos
Rússia
São Petersburgo
- Museu Hermitage – Love and Travel
Suécia
Estocolmo
- Museu Vasa – Viajar pela Europa
Ásia
China
Xi’an
- Museu Qin e os Guerreiros de Terracota – Like Wanderlust
Outros
- 9 museus no Brasil – D&D Mundo Afora
- Casas-museus: a vida cotidiana de gente muito especial – A Fragata Surprise
- Museus Interativos ao redor do mundo – Despachadas
- Os melhores museus para levar as crianças entre Rio e São Paulo – Viajar Hei
Legal ter sido a Catarina a ver potencial no mercado de Vodka… Não sabia da existência desse museu! Interessante!
Mas gente, que museu inusitado, divertido e… convidador. Brinde!!!
Gente, que demais esse museu! A degustação poderia ser logo no começo né – daí ia ficar até mais engraçado o audio-guia amador com a mulher comendo! hahaha ótimo post, estou com vontade de visitar :)
3 copinhos de vodka e já ia sair mais que alegrinha e adorando tudo! rs
Super super super concordo com a degustação no começo! hahahah
Gente, museu+degustação, que perfeito!!! Quero conhecer rsrsrs, Abraços, Léli
Ops, mais um que entra pra nossa programação se formos pra Rússia em 2018 com a seleção!!!
Eu adorei o post – e fiquei encantada com as vodkas degustadas.
Sou muito visual, portanto as embalagens contam muito para mim!
Humm..deu até vontade de uma caipirinha kkkkkk
Adorei o post. Super completo.
Beijos,
Fran @ViagensqueSonhamos
Essa mistura entre vodka, religião e política é super interessante. Parabéns pelo post. Adorei!
Eu não bebo, aí teria desvantagem na degustação, hahaha. Mas dele ser uma atração muito interessante mesmo assim. :)
hahaha! Narradora comendo enquanto contava a história é ótimo!!!
Taí um museu que eu PRECISO conhecer hehehehe!
Adorei o post!
Morri de rir com a mulher do audioguia. Durante a leitura do texto fiquei me perguntando se realmente ele valia a pena e adorei a resposta de vcs. Pena que o museu não é educativo. Realmente, os russos bebem demais. Vejo por como eles se comportam aqui em Barcelona e além de beber ainda cheiram a álcool.
Poxa, que sacanagem o audioguia todo estragado assim!
Mas mesmo assim fiquei morrendo de vontade de conhecer! Ótimo post! Obrigada por compartilhar!