Aprendendo a viver em Tânger, Marrocos

Na semana passada escrevi um artigo com as primeiras impressões sobre o Marrocos. Era meu primeiro dia no país e o choque cultural, de certa forma, me assustou bastante. Mas agora, seis dias depois, muita coisa mudou. Digamos que eu já esteja aprendendo a lidar com a vida em Tânger, e se você está com uma viagem marcada para o país, poderá saber melhor o que lhe espera. No artigo de hoje falarei de assuntos como a alimentação, gorjetas e sobre os guias nas ruas.

Só que antes faço um convite a você. Muitas pessoas vieram falar comigo perguntando sobre o país e sua cultura. Se você também tem alguma curiosidade sobre Tânger ou até mesmo sobre o Marrocos, poste-a nos comentários, que ficam ali embaixo. Será um prazer responder a ela.

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Agora vamos lá!

Educação paterna

Uma das cenas que mais me chamou a atenção até agora foi a do pai educando seus filhos. Ao sair do albergue, dei de cara com duas crianças gritando, correndo e distribuindo o caos na vizinhança. O pai delas (imagino que seja) – um homem que aparentava ter uns 40 anos de idade e físico típico de offensive guard de algum time da NFL, com aquele clássico palito de dente no canto na boca – veio andando rápido e, com fortes pisadas, chegou descarregando um tapa na nuca de uma das crianças, que correu desequilibrada por alguns segundos. Sério, o barulho oco do tapa foi alto! Essa criança que levou o tapa terminou de “catar coquinho” se rachando de rir, fez alguns gestos para o pai (nada obscenos) e entrou pro meio da Medina com ele correndo atrás dela. É aquele tipo de cena aleatória que você fica lembrando o dia inteiro e ri a cada momento que ela vem à sua cabeça.

Eu já tinha percebido que as crianças aqui brincam muito com socos e tapas. Talvez aprendam desde cedo. Mas o curioso é que elas parecem não se machucar. É muito comum encontrar com grupos de crianças jogando futebol dentro da Medina. Às vezes deixam a bola de lado pra chutar a perna do marcador, que chuta de volta. Estão o tempo todo gritando, mas rindo ao mesmo tempo. É um tipo de briga bem saudável.

Crianças jogando bola na praia de Tânger, Marrocos
Crianças jogando bola na praia de Tânger, Marrocos. Créditos: Adriano Castro

Alimentação

Com quatro dias de exploração e depois de perguntar a vários outros viajantes, sinto que já estou sabendo aonde ir pra não gastar muito com comida. E estas serão dicas valiosas caso você também esteja com planos para visitar Tânger.

No geral, alimentação no Marrocos não é cara. Em Tânger, muito menos. É possível fazer uma refeição completa com bebida gastando algo entre R$10,00 e R$15,00 (atente-se para o fato de que estou escrevendo este artigo em outubro de 2014). Quer um exemplo?

Hoje fui a um restaurante no meio da Medina onde me serviram uma sopa de grãos semelhantes a ervilhas, com várias fatias de pães acompanhadas de uma porção de azeitonas. E um detalhe: era a entrada de cortesia! Depois de comer, antes mesmo de pedir o prato eu já estava satisfeito. Mas como você vai embora sem pagar nada? Resolvi então pedir algo que fosse somente pra ter o que pagar ao ir sair: um prato chamado omelette persillée. Era um dos mais baratos e eu já estava sem fome, imaginei que viria um omelete simples. Certo? Mas veio um omelete enorme com batatas-fritas, tomate e cebola!

Ah! Outra dica valiosa: é difícil encontrar pratos com arroz (pelo menos ainda não encontrei). Por isso a batata tem sido uma boa fonte de carboidratos e ela pode ser encontrada em vários pratos por aqui, como os famosos tajines. Nutricionistas podem comentar o artigo me condenando caso eu esteja falando alguma besteira. Falta somente encontrar um bom substituto pro feijão, se até lá eu não desenvolver uma anemia.

Por fim, não consegui comer metade do prato e arrisquei pedir ao garçom pra embrulhar o restante pra viagem. Era pros cachorros, ok? E então acabei descobrindo mais uma característica da comida marroquina: quando você pede pra embrulhar um prato, eles pegam um daqueles grandes pães e colocam tudo dentro, fazendo uma espécie de sanduíche. E não cobram pelo pão! Ou seja, mais tarde tenho meu sanduíche de batata-frita pra comer quando a fome voltar.

O resultado final desse banquete? Vinte Dirhams pelo omelete mais vinte Dirhams pelas duas latas de Fanta, que hoje seriam equivalentes a R$11,40.

Gorjetas para os banheiros

De que adianta economizar no almoço se depois você estraga tudo? Nos banheiros, inclusive de restaurantes, é comum haver porteiros (por enquanto só vi do sexo feminino) que solicitam uma gorjeta quando você sai. Por isso é sempre bom separar moedas de um ou cinco Dirhams, deixando-as no bolso para situações como essa. No meu caso eu meti a mão na mochila e joguei uma de dez Dirhams. A mulher se mostrou surpresa, não parava de agradecer em árabe enquanto eu saía. E eu sem saber falar um “de nada”. No pote só havia moedas de um Dirham.

Bom, paguei quase R$3,00 pra usar o banheiro. Saiu mais caro do que tomar um banho na rodoviária do Rio.

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Os guias – parte 2

Se você leu meu artigo com as primeiras impressões de Tânger, provavelmente ficou curioso a respeito dos guias e vendedores de haxixe que são comuns dentro da Medina. Bom, com o tempo você aprende a lidar com eles e começa a ter mais liberdade ao andar pelas ruas. Falo pra você que tem um deles aqui que até me cumprimenta diariamente, sem oferecer nada.

Por mais que eles sejam honestos e estejam apenas tentando trabalhar, são muito irritantes, pois geralmente não param de andar com você mesmo se você disser que prefere ir sozinho, sentam do seu lado nos cafés sem serem convidados e insistem demais. Demoraram uns dois dias até eu me acostumar e pelo que perguntei aos outros turistas que encontrei no hostel, alguns não se acostumam.

Rua que vai em direção ao Kasbah de Tânger, Marrocos
Rua que vai em direção ao Kasbah de Tânger, Marrocos. Créditos: Adriano Castro

O segredo é nunca parar de andar. Não seja mal educado, porque eles não são pessoas ruins, não merecem ser ignorados, muito menos menosprezados. Mas é possível dispensá-los com um bom sorriso, agradecendo em árabe, shukran, e dizendo que só está dando uma volta para conhecer, mas que não irá comprar nada hoje. Alguns moradores locais recomendam que você se vista como um deles, fazendo uso de djellabas ou robes simples. Perguntei a um guia se não seria ofensivo, uma vez que não sou muçulmano, mas segundo ele não há problemas. Disse-me ainda que os próprios vendedores passam a respeitá-lo mais e ficam mais abertos a negociações.

Tá aí um bom item para seu checklist de viagens: um robe marroquino!

E indo muito bem. Havia saído por algumas horas sem parar pra qualquer guia. Eu e um australiano que havia chegado na noite passada resolvemos explorar a Medina no final da tarde. Afinal de contas, andar com companhia reduz e muito as chances de você ser importunado. Fomos até o Kasbah, que é uma espécie de castelo onde fica a parte antiga de Tânger, no alto de um morro, onde é possível avistar o Estreito de Gibraltar e as barcas que transportam as pessoas de Tânger pra Tarifa, na Espanha.

Kasbah

Como eu disse, eu estava indo muito bem. Tiramos algumas fotos da vista e já no portão do Kasbah um guia nos parou. Cometemos o erro de parar também. Ele jurou que não era nenhum pedinte e que era registrado pela prefeitura. Colocou a mão no bolso da camisa como que pra mostrar que havia um crachá ali por baixo, mas não chegou a nos mostrar. Primeiro tentou nos entregar um mapa e disse que não faria companhia, mas comentou algo sobre uma casa alugada por Mick Jagger e Keith Richards, integrantes do The Rolling Stones. Na hora ele ganhou nossa atenção. Ele fisgou o peixe. E assim aceitamos o tour. Bom, esse guia é autorizado, né? Não vai nos cobrar nada, pois ele já tem um salário. No máximo algumas gorjetas.

Tenho que assumir: o passeio de quase uma hora foi muito interessante e foi possível conhecer um pouco da história de Tânger. Ele nos mostrou as casas antigas que eram pintadas de azul para indicar a religião dos moradores ou coisa do tipo. Não estava entendendo muito bem, pois seu inglês tinha um sotaque muito estranho. E eu queria mesmo era ver a casa do Mick Jagger, já imaginando que seria aquele palácio, com estátuas, uma guitarra na porta e coisas do tipo. Bom, aí está a tal casa.

Foi uma decepção completa, tanto minha, quanto do australiano (perdão, mas em nenhum momento nestes dois dias um perguntou o nome do outro). Mas tirando a frustração, o Kasbah é um local muito bonito e rico em arquitetura marroquina. Se você pretende ir à Tânger, precisa percorrer as ruas da cidade antiga. Além de serem bonitas, elas têm um clima muito agradável, pois são constantemente atingidas pelos ventos que vêm do Mar Mediterrâneo. Mesmo andando por horas, você quase não sente calor.

Orla de Tânger

Pra fechar este segundo artigo sobre o Marrocos, nada como uma praia no sábado pela manhã. A orla de Tânger é muito parecida com as orlas brasileiras, exceto pela ausência de quiosques com logotipos de cerveja (infelizmente). Cerveja tem sido um problema nestes dias. É muito difícil encontrar restaurantes na Medina que servem e nos mercados afastados elas são caras. Mas isso é assunto para um outro post.

Durante a caminhada rápida pela praia, quem eu encontro? Nossa bandeira perdida.

Bandeiras de vários países na orla de Tânger, Marrocos
Bandeiras de vários países na orla de Tânger, Marrocos. Créditos: Adriano Castro

Bom, fico por aqui, pois não há muito que falar da orla, que é muito bonita por sinal, afinal de contas ela é muito parecida com as que temos no Brasil: sol, areia quente, ventos, água gelada e policiais andando a cavalo na beira do mar. Eu postaria uma foto dos policiais andando a cavalo na areia, mas descobri que por aqui devemos evitar fotografá-los… seria uma excelente deixa pro final do artigo.

Atualizando este post com uma leitura complementar bem interessante, sobre o Natal no Marrocos, país cuja população é majoritariamente muçulmana. Leia no Ligado em Viagem.

Onde se hospedar em Tânger

Foi no The Melting Pot que eu “morei” durante a minha estadia em Tânger. O preço era muito camarada e a localização privilegiada, a poucos metros do mar e perto da Medina. A portaria funciona 24 horas por dia e todos os cômodos recebem sinal wifi. Recomendo!

Leia mais sobre o Marrocos

Aprendendo a viver em Tânger, Marrocos

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Adriano Castro

Formado em Ciência da Computação pela UFJF, trabalhou durante 10 anos como analista de sistemas até chutar o balde e tocar a vida como freelancer, carregando seus projetos para onde quer que vá.

4 pensou em “Aprendendo a viver em Tânger, Marrocos

    1. Oi Luciana, obrigado pelo comentário!

      Sim, o comércio abre sábado. Tânger é uma cidade que recebe uma quantidade enorme de turistas, já que existe uma itinerário de barcas ligadas à Espanha e Portugal. Sua economia depende muito do turismo, então tudo ali dentro da medina funciona quase que diariamente. Pelo menos na época em que estive na cidade, não vi um dia em que não havia comércio funcionando, e olha que fiquei quase 3 semanas ao todo.

      Se você precisar de recomendação de hostel, minha dica é esse aqui: https://goo.gl/XCLjWu

      E se precisar de qualquer outra informação, sinta-se a vontade para perguntar.

  1. Oi, tudo bem?
    Existe alguma restrição para mulher? Eu estou indo lá passar um dia, gostaria de ir a praia e passear pela cidade durante a tarde. Há alguma restrição? Tenho que usar burca ou algo do gênero?
    Gostaria de saber para já ir me organizando.

    1. Olá, Jéssica! Olha, eu fui em 2014 e pelo que observei, ninguém estava na praia de sunga ou biquíni. Pra falar a verdade, as mulheres entravam na água totalmente vestidas (só não sei se isso é regra também para estrangeiros). De qualquer forma, como já se passaram 6 anos, muita coisa pode ter mudado. Minha sugestão é que você se informe melhor onde você estiver hospedada, uma vez que nos serviços voltados para o turismo você encontrará pessoas mais bem informadas a respeito do que se pode ou não fazer nas praias. =)

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