Uma road trip fantástica pela Islândia
Juntar uma road trip com a Islândia é a melhor coisa que um viajante pode fazer nesta ilha, e você vai saber por que. Além de contar como foi minha jornada e de meus três novos grandes amigos, vou tentar distribuir as dicas pra você que pretende vir pra ilha pegar a estrada.
Antes de começar, gostaria de agradecer ao coreano (김기한), um dos tripulantes de nosso veículo, que me cedeu várias das fotos que utilizo neste artigo.
Agora chega de introdução e pé na estrada!
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Por que alugar um carro?
Bom, é praticamente impossível chegar com seu carro por aqui, a não ser que você esteja disposto a gastar uma fortuna transportando-o. Já é um argumento, não? Você ainda pode estar pensando que vale mais a pena contratar algum tour guiado pela ilha. Sim, existem várias empresas que prestam esses tipos de serviço em Reykjavík, mas veja o que me incentivou a pegar a estrada por conta própria nos próximos parágrafos.
Duas das excursões mais populares por aqui são a South Shore Adventure – excursão que percorre o litoral de Reykjavík até Vík, no sul da ilha – e outra que cobre Gullfoss, Geysir & Þingvellir – três das atrações mais procuradas na Islândia. Eu queria muito fazer as duas, mas havia dois empecilhos: tempo e dinheiro. Não leia “Tempo é dinheiro”, caso contrário eu precisaria referenciar Benjamin Franklin. Somando os dois pacotes, seriam necessários 140 euros. Meio salgado, não? Eu ainda vivo no mundo do R$, não se esqueça disso. Ah! E o tempo: precisaria de dois dias, um pra cada excursão… e eu só tinha um.
Eis que me surgiu a ideia… estou num albergue com vários outros viajantes que também podem ter interesse em fazer o mesmo roteiro. Por que não sair chamando na cara dura, mesmo sem conhecer direito essas pessoas? Não precisei de duas horas pra conseguir juntar outros três seres humanos dispostos a compor o time da road trip.
Pela internet nós fizemos a reserva com direito a um micro-ônibus que nos buscaria no albergue na manhã seguinte. Sentamos os quatro na mesa, abrimos uma cerveja (mentira, bebemos água porque já era tarde e não havia nada aberto em um raio de 2km do hostel… lembre-se, estamos na Islândia) juntamente com o mapa da ilha pra começar a traçar as rotas. Felizmente o GPS funciona muito bem por aqui, mesmo sem internet, contanto que você faça o download dos mapas.
Vale reforçar um detalhe muito importante a respeito do planejamento da distância de sua road trip. Caso você esteja na Islândia durante o inverno, lembre-se que o sol só nasce por volta das 11:00 da manhã e começa a se por as 16:30. Ou seja, você só tem 5 horas e meia de boa visibilidade. Somado a isso há o fato de que vários trechos da estrada estarão congelados e muito escorregadios. Ou seja, a distância que você vê no mapa e a velocidade média que você pretende imprimir não devem ser os únicos fatores pra se calcular o tempo do trajeto. Haverá momentos em que você andará muito devagar e isso com certeza atrasará seu itinerário.
Com isso em mente, partimos pra próxima etapa do planejamento: alimentação. Uma das boas ideias foi a de fazer sanduíches e encher algumas garrafas d’água. Não somente porque as coisas por aqui são muito caras, mas porque não há muitos postos de gasolina e lojas de conveniência espalhadas pelas estradas. Ah! E chocolates! Leve muitos chocolates. Por algum motivo, passar o dia inteiro sentindo frio vai lhe dar vontade de comer chocolate.
Estávamos praticamente prontos pro dia seguinte.
A preparação do motorista
A princípio eu dirigiria o trecho completo de ida e volta. E confesso que havia um pouco de preocupação com o fato das estradas estarem congeladas. Resolvi pesquisar a respeito disso na internet e achei vários sites muito interessantes sobre dirigir na Islândia, em especial os que cito abaixo:
- SafeTravel.is: página dedicada aos viajantes que pegarão estradas na Islândia. Além de várias dicas, há um vídeo no final que merece ser assistido, cuja duração é de apenas 10 minutos, mas ilustra muito bem o que você pode encontrar em seu trajeto.
- 112 Iceland: aplicativo oficial dos serviços de emergência da Islândia. Caso você tenha um smartphone compatível com as versões disponibilizadas, é possível acionar o serviços de resgate com apenas dois clicks (um pra abrir o aplicativo e o outro apertando o botão vermelho). O aplicativo é integrado a seu GPS e uma mensagem é enviada via SMS para os serviços emergenciais do país que iniciarão os processos de resgate imediatamente.
Por fim, me assegurei de que a CNH brasileira é aceita por aqui. Sabe-se que existe outra carteira que o Detran emite para brasileiros poderem dirigir em qualquer parte do mundo, mas a CNH simples que você provavelmente já tem é suficiente. Tá aí um item que não pode faltar em seu checklist de viagens.
Onde quero chegar contando a você a respeito dessa preparação toda? É que nunca é demais se prevenir. Durante o trajeto encontramos vários carros capotados na beira da estrada. O curioso é que esses carros não estavam amassados, isto é, eles não saíram batendo loucamente até virarem de cabeça pra baixo. A impressão que dá é que simplesmente escorregaram, mesmo estando devagar, e mergulharem pra fora da pista.
As primeiras horas
Às 08:00 da madrugada, o micro-ônibus nos buscou na porta do albergue e fomos até a locadora pegar o veículo pra dar início à jornada. Cinco minutos depois, após assinar os papéis já estávamos com a chave. Isso foi rápido.
Difícil mesmo foi conseguir tirar o carro da locadora. Os vidros estavam congelados e com todo mundo tremendo de frio, ninguém conseguia mexer no painel pra achar os comandos de ligar o aquecedor e o desembaçador sem tremer. Mas isso foi de menos… depois que tudo já estava ligado, limpo e desembaçado, não conseguíamos achar a rua.
Quatro pessoas no carro, quatro aparelhos de GPS ligados e a gente rodando o estacionamento da locadora. Quando achei que tinha encontrado a saída percebi que estava na verdade dirigindo em uma ciclovia. E pra retornar? Atolei a roda traseira na neve que estava acumulada nos cantos da ciclovia enquanto manobrava o carro. E aí, galera? Vamos a pé? Ninguém queria ir de carro mesmo… não! Fomos perseverantes, afinal de contas somos brasileiros, indianos, coreanos e franceses e não desistimos nunca. No final do dia encontramos a saída do estacionamento, e essa foi nossa road trip. Espero que tenham gostado.
Óbvio que não. Na verdade, só precisamos de dez minutos.
Já eram 09:30 e a noite ainda reinava na rodovia que pegávamos em direção a Þingvellir: nosso primeiro destino. E qual era a velocidade nessa hora? 30km/h. Lembra do que eu lhe disse a respeito da velocidade média? A essa hora, havia uma ventania absurda que jogava algo que parecia uma poeira de neve no vidro, acabando com a visibilidade. Se não fosse pelos olhos-de-gato nas bordas, teríamos voltado.
O dia foi amanhecendo e aí pudemos ter uma ideia do que veríamos ao longo das próximas horas. O pouco de luz que chegava até as montanhas de gelo eram suficientes pra deixar todo mundo empolgado, olhando pelas janelas.
Þingvellir (10:30 da manhã)
Chegamos ao parque florestal que servia de parlamento nos primórdios da Islândia exatamente as 10:30 da manhã. Não havia sinal do sol. O céu estava coberto de nuvens e os primeiros passos fora do carro foram difíceis. A ventania fazia com que os -2°C não passassem de um número aleatório. Estava muito mais gelado do que isso.
Logo na entrada do parque, pegamos a primeira parte de estradas cobertas de gelo. Resolvemos parar e perguntar a uma equipe de resgate se era seguro dirigir com aquele tipo de carro nessas estradas. Eles ficaram meio confusos, olharam, fizeram aquela cara de éééé, né e nos deram o aval pra prosseguir.
De acordo com nosso planejamento, tínhamos apenas meia-hora pra explorar o parque. O dia aqui tem cinco horas e meia de sol, e não queríamos gastá-las no mesmo lugar. Você provavelmente precisará distribuir o pouco tempo que tem quando fizer uma road trip por aqui.
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As fotos acima foram tiradas do mirante principal que fica a apenas alguns minutos de caminhada do estacionamento. Já imaginou como a vista seria com sol? Sim, também imaginei, mas não tínhamos tempo pra esperar. Foi bonito mesmo assim. Bora pro carro que ainda tem muita coisa pra ver!
Geysir (11:30 da manhã)
No caminho para o Geysir (Gêiser), lá estava o sol nascendo no canto do planeta (onde ele ficaria o dia todo). Sim… a impressão que dá é que o dia todo aqui é um pôr do sol. Mas não entenda isso como uma queixa: na verdade esse fato só faz com que os cenários islandeses fiquem mais bonitos ainda.
Pra me poupar de explicar a você o que é um gêiser, caso você não saiba, aqui vai o que a Dona Wikipedia diz: Um gêiser … é uma nascente termal que entra em erupção periodicamente, lançando uma coluna de água quente e vapor para o ar.
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Lamento, mas as imagens não conseguem representar as dimensões do jato d’água e do barulho que é ouvido quando há uma erupção. Muito menos do cheiro… se você comeu alguma coisa estragada na noite anterior, essa é a sua hora… ninguém vai desconfiar de você, meu amigo, vai na fé! Há muito enxofre nas águas termais da ilha e seu cheiro é muito forte quando o gêiser lança as enormes colunas d’água para o alto.
Consegui fazer uma filmagem cujo áudio está muito prejudicado por conta dos fortes ventos. De qualquer forma, além dos ruídos, no final é possível escutar o indiano que estava com a gente dizer, naquele sotaque clássico, que estava realizando um sonho.
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De volta à estrada, agora com “muito” sol, tivemos tempo suficiente pra tirar várias fotos, já que nossa próxima parada seria duas horas depois, próximo ao litoral.
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Seljalandsfoss (13:30)
Chegamos à metade de nossa road trip. Faltando um ou dois quilômetros, já é possível ver uma grande queda d’água no alto de uma montanha totalmente branca e azul, coberta de neve e gelo… era Seljalandsfoss, uma das principais cachoeiras da ilha.
O melhor de tudo não é a cachoeira em si, mas ver que grande parte dela está congelada. Como é possível uma cachoeira congelar? Ah é! Estamos na Islândia… me esqueço às vezes.
Tudo isso na beira da estrada. Não é necessário esforço algum pra sair da rota litorânea e apreciá-la. Apreciar em partes… porque ficamos olhando para ela por apenas cinco minutos. Não teríamos tempo pra andar até seu lado oposto, coisa que os turistas com tempo fazem nessa atração.
Voltamos pro carro e vida que segue!
Skógafoss (14:30)
Você sai de Seljalandsfoss achando que viu a cachoeira mais bonita de todos os tempos, mas meia-hora depois descobre uma tão bonita quanto! A Islândia apela na criação de belezas naturais. Skógafoss também tem todo o charme de cachoeira cercada de gelo, mas com um rio parcialmente congelado em seguida, o que deixa a paisagem ainda mais bela.
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Paramos novamente o carro, mas desta vez nos presenteamos com mais tempo, afinal de contas essa era a penúltima parada e ainda tínhamos mais duas horas de luz. Foi bom poder respirar e curtir uma paisagem sem se preocupar tanto com a hora de sair dali. Deu até tempo suficiente de juntar o grupo pra uma foto.
Vík (15:30)
À uma hora do pôr do sol definitivo, chegamos a Vík, nosso destino final. Foi uma satisfação enorme conseguir chegar até lá com o sol ainda visto no horizonte. Estávamos na praia! Todo mundo mergulhando… de jeito nenhum.
Vík é uma cidade fantástica, do tamanho de um vilarejo. Não sei descrever o que me chamou tanta atenção naquele lugar, mas havia uma paz enorme pelas ruas ao longo da praia de areias pretas. Não é um local repleto de turistas e isso traz um clima ainda mais agradável.
Durante uma hora, deixamos nosso carro descansando enquanto tirávamos fotos do pôr do sol na areia e subíamos em algumas pedras que formavam barreiras na praia.
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Nesse momento, perdemos um dos nossos. O indiano que nos acompanhava foi tirar uma foto quando a onda veio e molhou suas pernas até os joelhos. Fica a dica aqui: não se deixe molhar na Islândia. O resto da tarde ele precisou passar dentro do carro, pois o frio estava congelando a água de suas calças. Mas a sorte é que isso foi só no final.
Assim como o sol naquela tarde, demos adeus a uma das viagens que vai ficar marcada em minha vida pra sempre, tanto pelas paisagens quanto pelas amizades que fiz nas poucas horas que fiquei na estrada. De totais desconhecidos, passamos a grandes amigos em apenas um dia. Coisas que uma road trip e um mochilão conseguem proporcionar.
Eu sei que tocar em assuntos financeiros não combina com tudo que foi contado neste artigo. De qualquer forma, acho que vale a pena citar o valor gasto pra que você compare com o quanto ficaria caso optasse pelas excursões… de 140 €, cada um gastou apenas 27 €.
Mas a vantagem de fazer uma road trip pela Islândia não se resume apenas à economia. Pra falar a verdade, não olho pra essa viagem e enxergo a economia que fiz. Estar em seu próprio veículo lhe permite parar a qualquer momento pra apreciar uma paisagem ou tirar fotos fantásticas. A Islândia inteira é bonita, e se você estiver dentro de um ônibus não conseguirá aproveitar os vários momentos que às vezes estão espalhados em pequenas coisas pelo caminho.
Estar sozinho não é desculpa pra abrir mão de uma viagem assim. Se você está hospedado em um albergue poderá encontrar várias pessoas dispostas a pegar a estrada, basta ter coragem e convidá-las!
Despeço-me da Islândia com essa jornada memorável! Se você quiser ver um roteiro de 10 dias pela Islândia, recomendo a leitura do blog Ideias na Mala.
Próximo destino do Viajei Bonito: Amsterdã.
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Morei na Islandia por 5 anos, estou voltando pra la em janeiro… pais magico!!
Olá Fatima!!!! Que notícia boa! Fiquei duas semanas por lá e tenho que lhe dizer: foi um dos lugares mais incríveis que já fui na vida! As portas do Viajei Bonito estão abertas. Se quiser escrever pro blog sobre o país ou postar suas fotos de lá, será um prazer!
Fala Adriano tudo bem?
Foi voce que dirigiu durante a viagem?foi sua primeira vez?
Se sim como foi sua experiencia de dirigir na neve/gelo?
Abracos
E ae Felipe! Td bem e vc?
Sim, eu dirigi grande parte do trecho dessa road trip. É um pouco diferente sim, porque as estradas não estão somente com neve, estão congeladas! A sensação é a de que a qualquer momento o carro vai sair sambando pista afora… mas sabíamos que não era assim, uma vez que os carros têm correntes nos pneus. De qq forma, o limite de velocidade era de 70km/h e então tentávamos não abusar muito nisso.
Me lembro de chegar a 90km/h em um radar que só fui ver a poucos metros e no reflexo pisei fundo no freio. Mesmo o carro tendo freios ABS, ele sambou um pouco, mas era uma reta, então rapidinho ele estabilizou.
Vimos vários carros de cabeça pra baixo, inclusive postei uma foto no artigo. Ironicamente, a placa de 70km/h acabou saindo na imagem.
Bom, comigo falando parece assustador, né? Mas não é. Se você dirigir nos limites e respeitar todas as sinalizações nas estradas vai tirar de letra. Sem perigos e sem sustos.
Qualquer dúvida pode perguntar! Grande abraço!