Guia de sobrevivência para o Carnaval do Rio de Janeiro
Janeiro chegando ao fim e a única coisa que passa pela nossa cabeça é: “qual vai ser a boa do Carnaval?“. Não há feriado mais esperado do que esse! Cinco dias de folia (ou de sossego, para quem preferir), gente feliz, dançando de qualquer jeito, vestindo fantasias que foram pensadas com meses de antecedência, mas confeccionadas de improviso, como sempre.
É durante o Carnaval que a alegria de ser brasileiro se manifesta. No Rio de Janeiro a festa começa antes mesmo de os enfeites de Natal serem recolhidos. Os ensaios das escolas de samba e dos blocos de rua fazem a alegria dos cariocas e dos turistas que chegam dos quatro cantos do mundo a fim de sentir essa energia que só existe aqui.
Engana-se quem pensa que o Carnaval no Rio de Janeiro se restringe aos desfiles na Marquês de Sapucaí. É na rua que ele acontece na sua forma mais genuína. E sabe o que é melhor? Todos os blocos são gratuitos.
Depois de cinco anos de folia intensa eu decidi que era hora de procurar a calmaria, não sem antes dividir com você o meu manual de sobrevivência. Nele falo sobre o que colocar na mala e quanto dinheiro levar, indico lojas para você montar fantasias sem gastar muito, dou dicas de segurança, de hospedagem e claro, dos melhores blocos da Cidade Maravilhosa.
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O que levar na mala
Para pular o Carnaval nos blocos de rua do Rio de Janeiro não é necessário muita coisa. Coloque na mala apenas roupas leves, sapatos confortáveis e adereços para compor as suas fantasias. Esqueça calça jeans e sapatos de salto. Também não recomendo tênis claros ou sandálias de materiais pouco resistentes, o primeiro porque vai acabar encardindo e o segundo porque pode acabar te deixando na mão. Opte por sapatos mais velhos, que já tenham o formato dos seus pés. Calçados novos podem apertar, dar bolha e acabar com a sua festa.
Chapéus e óculos escuros são indispensáveis. Se tiver um leque para se abanar, leve porque com certeza você irá usá-lo. Aproveite que é Carnaval e arranje um bem espalhafatoso.
Leve com você uma doleira ou bolsinha de pescoço (aquelas de plástico), elas serão muito úteis para transportar dinheiro, documentos e chave de casa.
Por fim, prepare um kit farmácia com aspirina, analgésico e relaxante muscular. Inclua band-aids e faixas para casos emergenciais. Não se esqueça do protetor solar. Melhor ainda se puder arranjar uma amostrinha e levar para retocar durante o dia, já que o suor vai acabar tirando tudo.
Onde se hospedar durante o Carnaval no Rio
Entendo que a escolha por hospedagem seja pautada no preço da diária, mas sempre vale aquela máxima de que o barato (se houver) pode sair caro. Procure ficar o mais próximo possível dos lugares onde os seus blocos favoritos vão concentrar, assim você evita gastos com transporte público e não perde tempo nas filas do guichê do metrô.
Em geral, os melhores bairros para se hospedar durante o Carnaval do Rio de Janeiro são: Botafogo, Flamengo, Catete, Glória e Lapa. Copacabana é bem abastecida de transporte público, mas não fica tão perto dos blocos mais legais.
Montei um guia para tratar exclusivamente sobre hospedagem no Carnaval do Rio de Janeiro, no qual mostro com detalhes quais hotéis e albergues são bem localizados dentro de uma faixa de preço razoável.
Onde se hospedar com segurança durante o Carnaval do Rio de Janeiro
Onde comprar ou montar uma fantasia
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No Carnaval do Rio não se usa abadá. As pessoas se fantasiam, vestem roupas coloridas, pintam o rosto e se enchem de acessórios.
O melhor lugar para comprar enfeites carnavalescos é a Saara, o maior centro de comércio popular do Rio de Janeiro. Lá que você encontra tudo que precisa para criar uma fantasia bem doida sem torrar uma nota.
O camelódromo fica no Centro da cidade e é bem fácil chegar lá: pegue o metrô (linhas 1 e 2) e desça na estação Uruguaiana. Ao sair você vai se deparar com as lojas cheias de enfeites. As principais ruas da Saara são: Rua da Alfândega, Uruguaiana, Buenos Aires e Senhor dos Passos.
Adereços que são vendidos durante os blocos podem ser encontrados na Saara por 1/3 do preço. Fantasias completas custam a partir de R$45 até o infinito. São mais de 1.200 lojas para explorar, então vá sem pressa. Nas vésperas do Carnaval, o lugar fica superlotado, então tenha paciência e mantenha atenção redobrada em seus pertences.
Outra dica é começar pelas lojinhas do fundo, que vendem as mesmas coisas das do começo com um preço mais camarada e são menos tumultuadas.
Adereços mais simples, como máscaras “venezianas”, perucas, chapéus e orelhinhas de gatinhas ou tigresas podem ser encontrados por menos de R$10. Os colares havaianos saem por R$2,50 cada um. Coroas de flores custam entre R$15 e R$35. A maioria das lojas facilita o pagamento, parcelando no cartão, mas com pagamento à vista fica mais fácil conseguir um desconto.
Não deixe para ir muito tarde, pois as lojas fecham às 18h.
Algumas observações:
- Na hora de montar a fantasia, dê preferência a tecidos leves que não piniquem. Panos sintéticos, como aqueles que imitam cetim, retêm o suor na pele e causam alergia. O mesmo vale para roupas muito justas.
- Cuidado redobrado com maquiagem e tinta para pintar o corpo. Na hora de se transformar em um Smurf ou em integrante do Kiss, escolha uma tinta hipoalergênica.
- Aplicar purpurina no rosto pode causar estrago nos olhos se não for utilizado um produto específico para essa finalidade. Os brilhos comprados em papelarias são mais ásperos e quando caem nas vistas podem arranhar o globo ocular. Compre aqueles específicos para maquiagem. Nas lojas da Saara é fácil de encontrar.
Quanto levar em dinheiro
Deixe a hospedagem paga e, se possível, compre com antecedência os tickets do metrô para ter melhor controle dos seus gastos e evitar as filas gigantescas que se formam nos guichês.
Tomando café da manhã em casa ou no hostel é possível economizar uma grana também. Reserve R$25 para cada almoço, uns R$10 para o lanche da tarde e mais uns R$20 para fazer uma boquinha à noite.
Nos blocos do Rio de Janeiro, 3 latinhas de cerveja com 250 ml (conhecidas localmente como “piriguetes”) custam R$5. Os sacolés alcoólicos custam em torno de R$2,50 e as pingas de metro R$3, mas é melhor evitá-los caso você não seja muito resistente a bebidas.
As garrafas de água mineral com 500 ml custam entre R$4 e R$5, então a minha dica é que você deixe algumas gelando em casa durante a noite e já saia de casa abastecido. Não há problema algum em levar bolsas térmicas e isopores para os blocos, muita gente faz isso.
Eu que sou uma foliã econômica gasto cerca de R$80 por dia (sem contar a hospedagem), mas conheço quem torre R$300 facilmente em uma tarde. O que encarece o rolé são as bebidas, então comprar garrafas no supermercado e fazer uma concentra antes de sair para os blocos é uma boa alternativa. Depois é só tomar uma coisa ou outra para se refrescar.
Como escolher os melhores blocos
Assumo que nunca fui de escolher os blocos, já que sempre fiquei hospedada na casa de amigos ou primos que moram na cidade e sabia que eles já estavam por dentro da programação, então o que eles decidissem seria maneiro.
Sendo assim, consultei três foliãs inveteradas para conseguir algumas dicas preciosas (obrigada Cássia, Thatita e Eloá). Anote aí:
1. Baixe um aplicativo com a agenda dos blocos
Os melhores aplicativos segmentam a programação por dia, horário e local. O app da Antarctica, por exemplo, funciona muito bem. Nele é possível selecionar os blocos favoritos e montar a própria agenda. É fácil de navegar e é gratuito.
Outro aplicativo muito bom é o Tô no Bloco, que tem as mesmas funções do programa da Antarctica e funciona muito bem offline.
Se o seu celular não é modernoso ou você não tem muita habilidade com as novas tecnologias, consulte o Guia da Boa ou a agenda de blocos de rua do Carnaval 2020 da WikiRio, que conta até com uma estimativa de público e assim você consegue fugir dos mais lotados.
2. Não subestime os blocos de bairro
Muita gente que resolve passar o Carnaval no Rio pela primeira vez acha que só os blocos grandes e famosos prestam, mas não é bem por aí. Os blocos do Aterro são realmente extraordinários, mas as bandinhas que tocam nas ruas e nas praças menores também são muito legais. Para quem viaja com crianças, estas são as mais indicadas.
Os blocos de Ipanema são impossíveis. Sempre lotados, fácil de se perder e difícil de acompanhar a música. Desaconselhamos totalmente!
Em Santa Teresa, recomendamos que você chegue antes do horário marcado para a saída dos blocos, pois os trajetos são variáveis e corre o risco de você passar o tempo só tentando descobrir onde eles estão. Ficam muito cheios também, mas dentro do tolerável.
3. Palpites para 2020
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A qualidade dos blocos pode variar de um ano para outro. O que foi sucesso no último pode ser uma porcaria neste e vice-versa. Com base nas nossas experiências, arriscamos alguns palpites para 2020. São estes:
Carmelitas – O Carnaval começa oficialmente em Santa Teresa, com o bloco que já é conhecido na cidade. Diz a lenda que todo ano uma freira pula do muro do Convento das Carmelitas para curtir a folia, então todos se vestem de irmã da caridade para que que ela possa passar despercebida e aproveitar a festa em paz.
Bloco Virtual – Não, este não é um bloco hipster. Esse é pra quem quer pegar leve no primeiro dia, já que o Virtual começa cedo e termina cedo, mas quem tem disposição pode se juntar a outros foliões e emendar em outro bloco. O repertório é bastante diversificado, composto por marchinhas, reggae, axé das antigas e músicas do momento.
Céu na Terra – Esse é para quem tem disposição para acordar cedo. O bloco é um dos mais conhecidos do Rio de Janeiro e tem repertório composto por marchinhas, sambas, frevos e composições autorais. O mais legal são os bonecos gigantes que circulam no meio dos foliões, sem contar os pernas de pau e os porta-estandarte feitos à mão.
Está marcado para o dia 25 de fevereiro, sábado, às 8h no Largo dos Guimarães, em Santa Teresa.
Cordão do Boi Tolo – Pioneiro dos blocos alternativos, o Cordão do Boi Tolo foi criado em 2006 após uma confusão de datas e horários envolvendo o Cordão do Boi Tatá, fazendo com que alguns foliões ficassem a ver navios. Para não perder a viagem, a galera se juntou e fez a própria festa, dando origem a um dos melhores blocos carnavalescos do Rio.
Sargento Pimenta – Já virou tradição do Carnaval do Rio de Janeiro. A banda arrasta multidões tocando músicas imortalizadas pelos Beatles em versões mais abrasileiradas, com arranjos de samba, marcha, maracatu e outros ritmos.
Amigos da Onça – um bloco inusitado, com repertório improvável que resgata canções cujas letras você nem sabia que lembrava. A orquestra também toca músicas autorais com ritmo contagiante.
Ainda não há horário e local de saída confirmados para este ano, mas já entrei em contato com os organizadores em busca dessas informações. Quando conseguir uma resposta, coloco aqui para vocês.
New Kids on the Bloco – esse é pra encher o coração da gente de nostalgia. O repertório é composto principalmente pelos pop hits dos anos 90, mas tocam também músicas mais atuais, tipo Beyoncé e Bruno Mars, tudo em ritmo carnavalesco. É o máximo!
4. Fica, vai ter bloco
O Carnaval do Rio de Janeiro não acaba na terça-feira. Na Quarta de Cinzas os blocos continuam a todo vapor e a programação ainda rende mais alguns dias, para a alegria dos cariocas e dos turistas remanescentes.
Um deles é o Me Beija que eu sou Cineasta, que é muito bom e não costuma ficar lotado. No meio da multidão não é raro cruzar com algum ator ou atriz global. Controle-se. Depois de muitos anos concentrando no Parque dos Patins, em 2017 o bloco estará firme e forte na Praça da Harmonia, Centro do Rio, a partir das 8h da matina.
O Super Mário Bloco também acontece na quarta-feira, em Santa Teresa, e é um dos meus favoritos. A moçada se veste como os personagens do jogo e ao invés de marchinhas, a orquestra toca as músicas do game.
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Transporte público
Viajar de carro para o Carnaval no Rio de Janeiro é uma tremenda furada. Prefira ir de avião ou de ônibus e use o transporte público enquanto estiver lá. Guardar o veículo nos estacionamentos da cidade custa uma fortuna e deixá-lo na rua está fora de cogitação.
Esteja preparado para engarrafamentos quilométricos nas saídas dos aeroportos e da rodoviária. Já fiquei presa em um ônibus por mais de três horas porque ele não conseguia entrar na Novo Rio. Mantenha a calma e poupe bateria do celular, caso você precise avisar a alguém que a viagem atrasará.
Ônibus e metrô funcionam em horários especiais durante esse período do ano e custam muito pouco se comparados a taxis ou Uber (em 2016, o metrô circulou durante 24 horas, mas ainda não há informações oficiais para 2017). Evite andar em vans clandestinas, principalmente se estiverem lotadas. Preze pela sua segurança.
Se tiver horário marcado, saia de casa com muita antecedência. As filas do metrô são quilométricas, tanto para comprar os bilhetes, quanto para entrar no vagão e sair de determinadas estações. Os ônibus também estão frequentemente cheios e às vezes é necessário aguardar o próximo coletivo.
Ficando em bairros mais centrais, poderá ir para os blocos a pé, o que é bom para economizar uma grana e evitar perrengues.
Dicas de segurança
Sei que o fator segurança é decisivo na hora de escolher onde passar o Carnaval e que muitos foliões optam por outros lugares tendo em vista que o Rio de Janeiro está entre as capitais mais violentas do país. Felizmente, nunca presenciei nenhum ato violento em nenhum bloco de rua, embora eles estejam frequentemente lotados.
Ainda que haja policiamento, algumas medidas de segurança podem ser tomadas para dificultar a ação de gente mal intencionada.
- Coloque o chip do telefone em um aparelho antigo, que não faça falta se for furtado/roubado;
- Deixe objetos de valor material ou sentimental guardados em casa;
- Dispense câmeras digitais. Curta o momento e se quiser fotografar alguma coisa, utilize a câmera capenga do seu celular velho mesmo;
- Separe o dinheiro em pequenas quantias, suficientes para cobrir apenas os gastos do dia, sem levar cartão de crédito;
- Deixe a carteirinha do plano de saúde junto com algum documento de identificação (nunca saia de casa sem essas duas coisas);
- Marque um ponto de encontro para caso alguém do grupo se perca;
- Jamais aceite bebidas de estranhos ou semi-conhecidos;
- Saia correndo diante de qualquer sinal de briga;
- Envie mensagem para amigos caso decida ir embora ou migrar para outro bloco. Escreva para onde vai e o nome de quem está com você.
O que evitar
Durante o Carnaval, evite alimentos de procedência duvidosa, principalmente aqueles que ficam expostos nas barraquinhas sem qualquer refrigeração. Abuse da água de coco, sucos e isotônicos para se hidratar, já que o sol escaldante faz a gente suar muito e pode acabar rolando um mal-estar.
Se estiver se sentindo mal, avise a algum amigo e peça para que ele te leve para uma área mais vazia para que você possa tomar um ar e se recompor.
Atenção: cervejas são diuréticas e podem causar desidratação. Se não estiver acostumado a ingerir bebidas alcoólicas, não é uma boa hora de se aventurar. Se passar do limite e a ressaca vier com força, tome uma ampola de Epocler e abuse dos líquidos para se reidratar.
Para onde correr
Cansou da folia do Rio? Quer sossego na Cidade Maravilhosa? Pensou em tomar um banho de mar, mas as praias da Zona Sul estão todas lotadas e cheirando a xixi? Então vá para alguma área mais afastada, como Grumari, Prainha ou Praia do Secreto. O acesso não é simples, muito menos rápido, mas saindo cedo é possível aproveitar o dia longe do tumulto.
Recados finais
Não force a barra com ninguém. Se levou um toco, aceite na boa e parta para outra. Nada de pegar ninguém à força achando que vale tudo no Carnaval e que todo mundo é obrigado.
- Respeite as minas, ainda que elas estejam com fantasias ousadas, são elas que ditam as regras sobre os próprios corpos.
- Se encontrar alguém em situação de vulnerabilidade, ajude, mesmo que não faça parte do seu grupo de amigos.
- Não faça xixi em vias públicas. No Rio isso pode lhe render uma visita à delegacia e uma ficha mais suja que banheiro químico.
- Cuidado com a mononucleose ao sair beijando todas as bocas que encontrar pela frente.
- Não, você não é capaz de discernir só pela aparência quem é portador de uma doença sexualmente transmissível. Use camisinha com todos os seus parceiros. É mais barato do que sustentar uma criança ou bancar tratamento médico.
- Não incorpore a fantasia de herói ou heroína. Nada de entrar em brigas! Caso presencie alguma, saia de perto e chame a polícia.
Seguro viagem para o Carnaval
Seu plano de saúde não cobre todo o território brasileiro? Então você precisa de seguro viagem nacional! Afinal, você não vai querer depender da saúde pública justamente no feriado mais tumultuado do ano.
O serviço custa apenas R$ 4,50 por dia, menos que uma cerveja, e oferece cobertura médica hospitalar, proteção para bagagem extraviada ou danificada e até assessoria jurídica em caso de acidentes de trânsito. Faça uma cotação em dois cliques!
Leia mais sobre o Rio de Janeiro
Essas foram as minhas dicas para quem quer passar o Carnaval no Rio de Janeiro.
Ainda tem alguma dúvida sobre a festa? Pergunte aqui nos comentários!
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