De Bike Pela Estrada Real – Dias 6 e 7: Gentileza gera gentileza
Dois dias em Carrancas bastaram para eu lembrar o quanto o descanso também move uma viagem. Mas era hora de seguir, e o sul de Minas chamava.
Logo nos primeiros quilômetros percebi que o dia seria daqueles: subidas fortes, sol castigando e um visual que entregava a promessa de um trecho marcante.
O destino final era Cruzília, mas antes disso eu viveria uma das surpresas mais inesperadas — e generosas — de todo o caminho.
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Dias 6 e 7: Carrancas / Traituba / Cruzília (MG)
Total: 73 km
Um dia sem pedalar e já estava sentindo falta. O descanso em Carrancas alimentou a alma. Domingo cedo, acordo, tomo um café reforçado e me jogo! Adeus cachoeiras! Adeus amigos! Vou-me embora para o sul!
O início da estrada é com bastante subida. O sol começa a arder e logo rola uma invejinha dos amigos que vão curtir um pouco mais das cachoeiras de Carrancas.
Como disse em um post anterior, tudo que sobe, desce. E começam as descidas. Puxa vida, como estamos alto! O visual das serras é deslumbrante.
Sigo para Traituba e de repente… Traituba é uma fazenda e não um vilarejo! Me informei errado sobre esse trajeto.
Na programação que eu mesmo fiz estava que Traituba é uma fazenda, mas passou batido. Fui com a intenção de me alimentar em Traituba para depois seguir para Cruzília. Só tinha comigo, barrinhas de cereais…
A Fazenda de Traituba está na rota da Estrada Real por causa da sua importância histórica, arquitetônica e econômica, acredito eu… (Dizem que lá se desenvolveu a raça do Mangalarga Marchador). A Fazenda foi construída para hospedar o Imperador D. Pedro I, o qual nunca tomou um cafezinho por lá…
Ao contrário de D. Pedro I, parei não para hospedar e nem para tomar um café porque não tinha, mas sim para conhecer aquela fazenda colonial gigantesca! Nunca vi uma fazenda tão grande assim. Fui entrando por um portão lateral e logo você se vê dentro de um pátio enorme, cercado por um longo muro cheio de cômodos.
Fiquei fascinado por alguns minutos e depois percebi um movimento de pessoas em um daqueles cômodos que cercavam como muro a fazenda. Pessoas guardavam coisas dentro de um carro e fui aproximando.
Estavam quatro crianças, um casal de adultos e um adolescente. O ambiente parecia de um final de festa.
Ao cumprimentá-los, perguntei se haveria algum lugar para comer por ali, mas a resposta foi não. Resmunguei com o “pai” sobre a falta de uma mercearia, bar, e ele concordou, mas nada de mais. Acho que já está acostumado com os sustos dos viajantes que passam por lá e não encontram nada para comer ou beber. (Mais tarde ele comprova isso.)
Ao me despedir, o “pai” oferece um copo de refrigerante, pão francês e vinagrete! No dia anterior à minha chegada, aquele cômodo serviu para celebrar a festa de aniversário de uma de suas filhas. Bebi um refri gelado, comi um pão, agradeci e me retirei para ver a Fazenda mais de perto.
Quando estava fazendo alguns registros vejo que o pai, a mãe e o adolescente carregavam um freezer! Quem já carregou um freezer sabe o tanto que isso pesa e logo me ofereci para ajuda-los.
Tiramos a mãe e levamos nós três. O pai disse que o freezer ia lá para dentro da Fazenda. “Meu Deus! Vou entrar na Fazenda!” O pai era caseiro e o patrão autorizou a festinha de aniversário de sua filha.
Ao abrir aquelas portas enormes, a surpresa veio em dobro. A Fazenda é maior ainda por dentro! Igual nos livros de História. Uma mesa de jantar na entrada que cabem umas 12 pessoas, pias de cobre, quartos e mais quartos…
Não quis registrar a fazenda por dentro para não criar um mal estar entre o funcionário e seu patrão. Aquelas imagens ficarão pra sempre registradas em minha memória.
Ajuda feita, é hora de partir. Me despeço de todos e começo a virar a bike para a saída quando o pai me chama. Pede para eu esperar. Entra na Fazenda e logo retorna com duas garrafas de água mineral! “Toma! Da pra você carregar aí?!” Claro! Respondi. “Água nunca é demais!”
Sinto vergonha em batiza-lo aqui como “pai” porque esqueci o seu nome, rs. Ele agradeceu pela ajuda e quis contribuir o obrigado com as duas garrafinhas. Arrumei um jeito de guarda-las no alforje e quando fui sair ele completou: “Tá vendo aquela casa ali?” Apontando o indicador para fora dos muros da Fazenda. “É minha. Qualquer coisa que você precisar durante a viagem pode bater em minha porta”. Fiquei sem palavras!
A estrada para Cruzília varia entre subidas e descidas. Muitos pastos, criação de gado e plantações vão ficando para trás. A estrada está bem sinalizada.
O trecho final até Cruzília é por asfalto (aproximadamente 6 km). Bom para descansar, pois esse dia foi bem longo.
Cruzília é bem simpática e está em festa. Final do feriado de Corpus Christi. Arraial, comidas típicas e frio. Muito Frio!
Amanhã o trajeto será Cruzília – Caxambu – São Lourenço. Conhecendo o Sul de Minas!
Até a próxima!
Leia todos os posts da série 'De bike pela Estrada Real'
- Dia 1: Alto Maranhão (MG) / São Brás do Suaçuí (MG) / Entre Rios de Minas / Casa Grande (MG)
- Dia 2: Casa Grande (MG) / Lagoa Dourada (MG) / Prados (MG)
- Dias 3 e 4: Prados (MG) / Tiradentes (MG) / São João Del Rei (MG) / São Sebastião da Vitória (MG) / Caquende (MG)
- Dia 5: Capela Do Saco (MG) / Carrancas (MG)
- Dias 6 e 7: Carrancas (MG) / Traituba (MG) / Cruzília (MG)
- Dia 8: Cruzília (MG) / Caxambu (MG) / São Lourenço (MG)
- Dia 9: São Lourenço (MG) / Pouso Alto (MG) / Itamonte (MG) / Itanhandu (MG) / Passa Quatro (MG)
- Dia 10: Passa Quatro (MG) / Vila do Embaú (SP) / Guaratinguetá (SP)
- Dia 11: Guaratinguetá (SP) / Cunha (SP)
- Dia 12: Cunha (SP) / Paraty (RJ)
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Rafael Barletta
Possui bacharel e licenciatura em Geografia. Leciona para os ensinos médio e fundamental de escolas públicas e particulares. Gasta todo seu salário no mundo duas rodas e em viagens. Não dispensa um feriado.
