De Bike Pela Estrada Real – Dia #12: Vida
Dia 12 – Cunha (SP) – Paraty (RJ)
Total: 57 km
Acordo antes do despertador. Estou pensando sobre os 11 dias de viagem. Lembro-me de Paraty, lembro que falta mais um pouquinho só e que dessa vez, vou pedalar em grupo. Será uma novidade assim como foi os demais dias.
Saio do quarto para tomar o café da manhã e trabalhadores já estão lá, terminando seu lanche e partindo para suas rotinas. Fico mais feliz ainda em saber que não sou eu naquele caminho.
Encontro com os paulistas e tomamos café juntos (os dois viajantes estão “descendo” para Paraty. Vão zerar o odômetro e fazer o sentido contrário, para Ouro Preto, no dia seguinte).
Foi o dia que saí mais tarde. Próximo das 10 hs. O tempo já está quente e finalmente estamos na estrada rumo a Paraty!
Entramos na estrada de terra com bastantes subidas. Belas paisagens vão se formando. Vales são acompanhados por rios e cachoeiras. Mantemos um ritmo bom mesmo estando cansados e após cada subidão, paramos para respirar e apreciar a paisagem. Já sabíamos que a maioria do trajeto seria por asfalto, mas dessa vez ele não acabou com o meu humor. Desbravar a estrada de Cunha até Paraty é o que mais quero nesse momento.
Antes de chegar à divisa de estados (SP/RJ) enfrentaremos a temida subida da Serra do Mar. Mesmo sendo por asfalto, não vai ser fácil. E não foi!
“Mas por que a pressa?! Vamos parar naquele restaurante e fazer um almoço…” Não tinha almoço no restaurante! Então desce um salgado com coca-cola.
Do lado paulista é só subida. Em um determinado ponto aparece uma cachoeira ao lado da estrada e paramos para nos refrescar. Mais algumas horas de subida e lá está mais uma placa de divisa de estados! A mesma alegria que me tomou conta no dia que passei para São Paulo renasce. Agora estamos no Rio de Janeiro e o relevo vai ficando menos inclinado. Sinal de que estamos vencendo a Serra do Mar. Ao estudar a planilha desse dia, saberíamos que seriam aproximadamente 33 km de subida (generalizando) e quando os computadores de bordo e GPS mostraram essa quilometragem não deu outra e a descida chegou. Está nos levará direto a Paraty!
Agora é hora de apreciar o vento no corpo, a exuberante Mata Atlântica e não perder o mirante que aparecerá a qualquer momento!
Lembro-me da passagem pela serra da Mantiqueira e minha desatenção quanto ao túnel histórico e dessa vez não queria perder mais nenhum ponto. Feito isso, eu e os paulistas rumamos para baixo, mas com a atenção de visualizar o mirante a qualquer momento.
O mirante era uma abertura feita pela obra na estrada-parque que realmente dá para ver a baía de Paraty. Sorriso no rosto de nós três!
Mais abaixo a estrada-parque está em obras. Começamos a ultrapassar os carros que descem lentamente e mais uma vez, um mirante e paramos para lanchar. São aproximadamente 15h00minhs.
Não tenho pressa nenhuma em chegar a Paraty. Já da pra sentir que estamos bem perto, mas ficar naquela paz cercado de floresta e montanha não tem preço. Vamos descendo brincando entre os obstáculos como crianças em um parque de diversões até esquecermos que carregamos bagagem e um dos suportes da bike do Antonio Carlos quebra, precisando reparar. Pausa de uns 30 min.
A descida começa a ficar menos acentuada e vamos acompanhando no GPS a altimetria. Cada nova medição é um sorriso a mais!
Várias placas nos alertam sobre cachoeiras e naquele momento a meta é a praia. Depois pensamos nas cachoeiras. Estamos no bairro da Penha com uma bela igreja, grande circulação de turistas e vamos descendo!
O sol já está se pondo. Já são mais de 50 km percorridos e lá está o portal de Paraty, na entrada da cidade. “Nossa. Que loucura! Todos esses dias pedalando e aqui estou!” Cada um com sua particularidade. Em silêncio e com um sorriso no rosto vamos entrando na cidade. “Uau! Que loucura!” era só o que me vinha à cabeça…
Os paulistas trouxeram barracas e os levei para o bairro Jabaquara, pois conheço um camping muito bom por lá. Ao deixa-los, saio à procura do hostel e combino de encontra-los mais tarde para jantar e tomar uma cerveja. Coloco as mãos no Atlântico e saio. Já está ficando escuro e quero arrumar minhas coisas para depois relaxar de vez!
Uma das maiores viagens de minha vida chega ao fim. Foram dias maravilhosos, únicos e nada solitários! A cada chegada em um destino, entrava em contato com minhas irmãs pelo Whatsapp e elas repassavam as informações aos meus pais. Sempre me preocupei em avisá-los. Eles me apoiam em tudo que faço e não poderia deixa-los ansiosos à espera de alguma notícia. Acredito que eles ficaram bem satisfeitos e aliviados ao saber que cheguei bem.
Essa viagem não foi uma aventura e nem uma busca espiritual. Foi uma escolha minha de viajar dessa forma. Uma forma diferente de vivenciar a estrada com suas cidades, personagens, histórias e culturas diversas. Muito se valoriza em uma viagem dessas como passar dias sem contato com pessoas que lhe provém facilidades no seu cotidiano e a partir daí, cria-se uma visão diferente do seu círculo diário.
Nunca me senti sozinho durante a viagem. Gosto de pessoas. Gosto de ficar com elas. Gosto dos meus amigos e familiares e em nenhum momento senti solidão. Conheci pessoas de várias partes da América e do Brasil. Norte americano, chileno, argentino, peruano, carioca, paulista, mineiro…
“A solidão é você ser desacreditado, você não ter eco naquilo que fala… ninguém te ouvir e respeitar…” Amyr Klink.
Vou ao encontro dos amigos paulistas em um quiosque na entrada do Jabaquara. Já estão lá saboreando a primeira cerveja e fizeram o pedido do jantar. Peço carne! Muita! E ali ficamos contando causos da vida, da nossa viagem, das nossas experiências e principalmente dos motivos que nos impulsionam a voltar para casa.
P.S.: Noutro dia os paulistas resolveram ficar mais dois dias na praia, curtindo a bela Paraty e seu inverno tropical.
Fiquei quase uma semana curtindo Paraty e depois fui para o Rio de Janeiro passar mais alguns dias na casa do meu amigo Adriano (mas dessa vez não foi de bike e sim de carona em um fusca de um amigo chileno. Desmontamos a bike e partimos). Aproveitei para comemorar meu aniversário na cidade maravilhosa!
- Acompanhe o relato completo dessa viagem: