Nossos 15 dias de desventuras na Rússia

Na segunda metade de 2015 achamos uma promoção relâmpago de passagens para a Rússia. A ideia de conhecer o país e alguns de seu entorno parecia ótima, e foi, com exceção do país principal nessa história toda. Não nos arrependemos da viagem, obviamente, afinal de contas aprendemos muito por lá e conhecemos culturas completamente diferentes da nossa, mas podemos dizer que não a faríamos de novo e você vai entender os motivos nos próximos parágrafos.

Era a nossa primeira viagem internacional após a criação do Viajei Bonito. Estávamos ansiosos para conhecer a Rússia, os bálticos e a Finlândia. E você já sabe o que acontece quando criamos expectativas. A coisa começou a desandar quando compramos as passagens aéreas.

Voos em horários diferentes

A fim de garantir os benefícios oferecidos pelos nossos cartões de crédito, costumamos comprar as nossas passagens individualmente, mas sempre ao mesmo tempo. Nosso objetivo era passar algumas horas em Roma antes do embarque para Moscou.

Acontece que dessa vez o sistema aprovou uma das compras e recusou a outra, alegando que o voo já estava cheio. Entramos em contato com o site que divulgou a promoção, mas nos responderam que a compra só poderia ser feita pela internet. Com receio de perdermos a oferta, compramos a segunda passagem em um horário diferente e depois tentaríamos alterá-la diretamente com a companhia.

Horas depois a empresa intermediária liberou outros lugares no horário que queríamos, mas não foi possível realizar a troca, nem explicando mil vezes a situação.

Ficou a lição: nunca mais compraremos passagens aéreas através de sites intermediários, por mais conhecidos que sejam. Eles nos servem agora apenas para fonte de consultas e para nos alertar sobre promoções, mas nunca para compra. Qualquer alteração nos voos implica em tarifas exorbitantes e a companhia que presta o serviço não pode fazer nenhuma alteração sem passar pela intermediária. Foi desgastante, mas tá tranquilo. Pelo menos aprendemos alguma coisa.

Os problemas começaram antes mesmo de embarcarmos para a Rússia

Os problemas começaram antes mesmo de embarcarmos para a Rússia. Créditos: Gisele Rocha

Chegada conturbada em Moscou

Adriano ficou passando mal em Roma enquanto eu, Gisele, embarquei para Moscou. Estava com uma mala grande cheia de roupas de frio e equipamentos fotográficos. Ainda assim me arrisquei a usar o transporte público para manter a viagem no modo econômico, como sempre.

Acontece que nem no aeroporto internacional da Rússia os funcionários falam inglês. Sim, entendemos que o conflito com os Estados Unidos tenha durado décadas e tenha deixado marcas na cultura dos russos, mas acreditamos que ao menos no aeroporto da capital do país que sediará a Copa em 2018 os atendentes do balcão de informação deveriam ser bilíngues. Tentei o inglês e não rolou. Espanhol também não. Italiano muito menos e Francês passou longe. Eu só queria saber de onde saía o Aeroexpress, o trem que leva as pessoas do aeroporto até o Centro.

Eles só me mostravam onde ficava o ponto de taxi. Os taxistas ficavam em cima de mim e um deles até pegou a minha mala e colocou dentro do carro, praticamente me obrigando a entrar. Não havia wi-fi gratuito para eu tentar me localizar, então acabei desistindo do Aeroexpress e peguei um ônibus para ir até o metrô que me deixaria próximo ao hostel.

No metrô é salve-se quem puder

Já estávamos cientes de que o sistema de metrô na Rússia era bastante complicado por causa do alfabeto cirílico, bem diferente do nosso. Precavidos que somos, anotamos o nome da estação mais próxima ao nosso hostel seguindo as instruções disponibilizadas no site e ainda baixamos um guia do metrô que nos mostrava detalhadamente os trajetos.

Isso não foi o suficiente para evitar que a gente se confundisse.

E para saber o sentido do metrô para saber em qual lado ficar? Esqueça, os russos não dão informações. Se você tiver sorte, vai achar um estrangeiro solícito. Do contrário, vai ter que entrar em um dos carros lotados e ver para qual estação ele segue e, enfim, ver se você está na direção certa.

Eu, Gisele, com 1,55m de altura, tive que sair carregando uma mala de uns 23kg no meio da muvuca que se formou no metrô na hora do rush. Queria ter tirado uma foto daquele mar de gente, mas a mão que estava livre foi imobilizada pelas pessoas que me amassavam. Às vezes a mala se soltava da minha mão porque as pessoas simplesmente passavam na frente dela.

Aos trancos e barrancos, cheguei na estação de destino. Ufa!

O clima não é nada bom nas estações de metrô na Rússia

O clima não é nada bom nas estações de metrô na Rússia. Créditos: Gisele Rocha

Endereços confusos, ruas duplicadas

Entender a continuidade das ruas de Moscou e São Petersburgo foi um grande problema para nós. Alguns nomes são parecidos, outro são completamente iguais. E os números não continuam de onde pararam, vão crescendo e diminuindo sem nenhuma lógica aparente. Era complicado encontrar os lugares e até o GPS bugava com essa bagunça.

Depois de muita peleja e de arrastar uma mala pesada por ruas e ruas, finalmente estava na porta do hostel e já estava sonhando com um banho bem quentinho.

Só que deu ruim de novo mais uma vez.

“A funcionária deve ter se confundido, a sua reserva é para o outro hostel da rede, fica do outro lado da cidade”. QUÊ????????????? Eu passei um cagaço no aeroporto, fui encurralada no metrô, puxei essa mala por umas cinco quadras e você vem me dizer que eu tô no lugar errado? Cê tá me zuando!”. “Pode descansar ali no sofá, tome um café que eu vou chamar um taxi pra você”.

Aí eu fiquei tranquila. Fui bem atendida e o hostel arcaria com o transporte, devido ao erro da funcionária.

Só que não.

“O taxi até lá custará entre 200 e 250 rublos (uns R$14), você vai pagar em cash ou cartão?”

Gisele com cara de sono após um dia de viagem desgastante

Gisele com cara de sono após um dia de viagem desgastante. Créditos: Adriano Castro

Taxistas desonestos

Não é exclusividade do Brasil, há taxistas desonestos em qualquer lugar do mundo, principalmente quando notam que você não fala a língua deles. Na Rússia não é diferente.

O taxista já ligou o taxímetro em 200 rublos e quando eu apontei para o número, ele desconversou, dando a entender que aquele era o valor fixo. Chegando ao destino final, 500 rublos!!

“Eu não vou pagar”. Simples!

Ele deixou a minha mala na porta do hostel e eu disse para a recepcionista que não tinha dinheiro trocado. Ela tirou o dinheiro do caixa e pagou e me deu uma notinha com o valor a ser acertado junto com o pagamento das diárias. Como o erro foi deles, minha vontade era amassar aquele papel e enfiar no lixo, mas preferi guardar e esperar a opinião do Adriano.

Por falar nele, o voo estava previsto para chegar às 3h da manhã em Moscou. Com receio de pegar o metrô de madrugada, Adriano já tinha reservado um transfer com bastante antecedência, com todos os preços e taxas combinados. Só que sempre dá pra tirar vantagem sobre o turista.

O combinado inicialmente era de 700 rublos, mas o taxista alegou que ter esperado durante muito tempo (mesmo com o voo tendo chegado na hora combinada) e cobrou mais 200. Depois disse que teria de pagar mais 300 para levá-lo ao hostel. No fim das contas, os R$38 combinados viraram R$65.

Assédio no hostel

Foram apenas 8 horas sem o Adriano, tempo suficiente para ser assediada. Um russo que mora no hostel cismou com a minha cara e não saía de perto de mim. Como falta de sorte pouca é bobagem, fui premiada e meu quarto era o mesmo que o dele (e de mais 5 homens). Não dava nem para descansar em paz.

Ele pedia para a recepcionista traduzir as coisas pra mim e, desconcertada, ela apenas falava algo que eu acredito que fosse “ela é comprometida”.

Quando enfim entrou uma mulher no quarto, eu resolvi dormir também. E não tive paz. Toda hora a recepcionista me acordava perguntando se o Adriano já estava chegando, mesmo com o voo no horário certo. Que fase!!

A adaptação cultural nem sempre é fácil. Para nós, nunca foi tão difícil quanto na Rússia

A adaptação cultural nem sempre é fácil. Para nós, nunca foi tão difícil quanto na Rússia. Créditos: Adriano Castro

Adoecendo no meio da viagem

Adriano já chegou muito mal em Moscou. De saúde também. Mesmo assim saímos para passear e tentar virar a maré de azar. Mas acabou não rolando. Para não prejudicarmos os dias seguintes, optamos pelo repouso. Partiríamos para a Lituânia na esperança de que quando voltássemos através de São Petersburgo as coisas seriam mais fáceis.

Ledo engano.

Caça ao hostel

Passamos dias maravilhosos e até nos casamos em Vilnius. Foram dias leves, sem nenhum perrengue. Estávamos de coração aberto para conhecer a Rússia e suas belezas arquitetônicas, deixando para trás a má impressão dos primeiros dias. Mas não durou muito e as desventuras recomeçaram.

Pelo menos não foi só com a gente (às vezes ver que não somos os únicos a se lascarem consola a alma). Mãe e filha (brasileiras como nós) desceram do ônibus e ficaram discutindo se iam de taxi ou se esperavam o metrô começar a funcionar para irem para o hotel, pedindo informação para outro brasileiro que já conhecia o lugar. Papo vai, papo vem, o ônibus foi embora com as malas delas no bagageiro. Deu muita pena! Se já tava difícil para nós, imagina para quem ainda ia precisar reaver as bagagens. Infelizmente não as encontramos mais para saber como essa história terminou.

Bem, continuando. Nós pegamos o metrô e fomos parar na estação Ploshchad Vosstaniya, teoricamente a poucos passos do nosso hostel. Só que as ruas são muito estranhas lá, como já falamos anteriormente. Elas terminam e recomeçam do nada, com o número zerado.

Andamos na primeira parte da rua, achamos o número do nosso hostel e uma placa de “guesthouse”. Tocamos o interfone e nada. Tentamos de novo e nada. Insistimos muito e atendeu uma mulher furiosa, falando qualquer coisa em russo que naturalmente nós não entendemos. Adriano tentando explicar que tínhamos uma reserva e nada feito.

Ficamos mais um tempo procurando no celular e Adriano descobriu que a rua continuava do outro lado, então finalmente chegamos ao prédio certo. Tinha um homem fumando na porta, então perguntamos para ele se o hostel era ali e ele nos acompanhou pelas escadas, nos levando até a porta e digitando a senha para entrarmos.

Demos de cara com um homem de camisa e cueca passando as calças. Uma mulher sai do quarto resmungando, nós explicamos que tínhamos um quarto reservado, ela com cara de poucos amigos chamou uma outra mulher, que também acordou resmungando. Mostramos o papel da reserva para ela, que apontou para cima, indicando que o hostel que procuramos era no andar superior.

Agora a gente racha de rir, mas naquela hora, cansados e com mala e mochila pesadas, não tava legal.

Parecia que essa noite durou dois dias, pois a empreitada não havia acabado. Tocamos a campainha umas duas vezes e um jovem sonolento atendeu. Ele não falava e tampouco entendia inglês, e para completar, a internet do hostel estava fora do ar, não tínhamos nem a possibilidade de usar o iluminado Google Translator, que sempre salva a pátria.

Por fim, ele jogou a gente num quarto só para nós dois e tivemos, enfim, nossa noite de sono.

Era difícil manter a calma quando tudo estava dando errado

Era difícil manter a calma quando tudo estava dando errado. Créditos: Gisele Rocha

Russos não querem saber de amenidades

É uma questão cultural. Nós brasileiros tendemos a ser mais falantes e prestativos, mas não espere isso nos russos que não conhecem você. A história pode mudar se você tiver um amigo natural do país, o que não era o nosso caso.

Não conseguíamos parar as pessoas nem para pedir informação, quem dirá para puxar papo e perguntar um lugar legal para conhecer longe do circuito turístico. Mas já haviam nos alertado e não esperávamos muita simpatia. O que nos deixou bastante intrigados foi ver que muitos deles não têm compaixão nem com as pessoas do próprio país (como no caso da velhinha que rolou escada abaixo e ninguém se prontificou a ajudar, passando do lado dela como se nada tivesse acontecido; ou nos inúmeros casos em que as pessoas não seguravam a porta do metrô e deixavam bater na cara de quem estivesse atrás).

Polícia corrupta e arbitrária

A polícia russa não é conhecida por ser um exemplo de honestidade e por cuidar da segurança das pessoas. Pelo contrário. Lemos sobre casos de pessoas que tiveram os passaportes confiscados e só conseguiram sair da delegacia depois de molhar a mão do guarda. Já sabíamos em hipótese alguma deveríamos pará-los para pedir orientações, também não era bom encará-los, muito menos fotografá-los, ainda que o motivo principal da imagem fosse um monumento ou alguma atração turística.

O que não esperávamos é que seríamos abordados dentro de um parque por estarmos usando um tripé para tirar fotos dentro de um parque no fim da tarde. Já estávamos guardando o instrumento e uma policial nos abordou. Provavelmente achou que aquilo fosse uma arma. Pelo menos não atirou sem conferir. Outras pessoas estavam fotografando, mas ela virou apenas para nós dois e disse “é proibido fotografar aqui”.

No metrô aconteceu a mesma coisa. Tiramos uma noite, fora do horário de pico, para fotografarmos as belíssimas estações, mas a segurança me cutucou e disse “não é permitido fazer fotos aqui”, sendo que diariamente três grupos de passeio fazem esse mesmo percurso que Adriano e eu fizemos sozinhos, sem nenhum aviso que proibisse fotos das estações.

Hostel inexistente

De volta a Moscou, procuramos um hostel diferente do que nos hospedamos pela primeira vez. Como de praxe, pesquisamos a localização e lemos as recomendações de outros usuários para evitar ao máximo mais uma furada para a nossa coleção. Não adiantou.

Saímos de São Petersburgo no começo da noite e chegamos a Moscou de madrugada, num frio de amargar, sono e fome. Depois de muito procurar (pra variar), finalmente achamos o prédio. Tocamos o interfone e nada. De novo, nada. Mais uma vez, nada. Insistimos, nada. Depois de 50 minutos um morador do prédio saiu e perguntou se queríamos entrar. Claro, estávamos morrendo de frio.

Tocamos a campainha. Nada. Mais uma vez. Nada. De novo, nada. Afundamos o botão da campainha e nem assim alguém abriu. Oba! Ouvimos passos, acordaram e vão abrir a porta. Não abriram.

Quase chorando, fomos para a beira da estrada pra tentar que algum iluminado poliglota falasse inglês e entendesse o nosso perrengue. Na segunda tentativa, um árabe cobrou 250 rublos para nos levar ao hotel mais próximo. Tudo bem, já estávamos na merda mesmo.

Eu só queria dormir um pouquinho

Eu só queria dormir um pouquinho. Créditos: Adriano Castro

Enfim, uma luz

O taxista árabe só nos levava para aqueles hotéis caríssimos, com manobristas e fachadas luxuosas. Estava difícil explicar pra ele que procurávamos um hostel barato, e já estávamos quase cogitando dormir em um desses hotéis caros apenas para aliviar o cansaço e tomar um banho, até ele perguntar: “internet?”

Explicamos que estávamos sem 3G e ele ofereceu o próprio tablet para procurarmos algo que coubesse no nosso bolso (e que existisse realmente). Nesse meio tempo, ele ligou para a irmã, que falava inglês com mais fluência e até nos chamou para dormirmos na casa dele. Mas dentro de tantas ciladas, temíamos que essa fosse mais uma.

No fim das contas, pedimos que ele nos levasse ao primeiro hostel, porque por mais trash que tivesse sido a experiência, ao menos as instalações eram boas e a gente poderia tentar achar um quarto privado. Assim fizemos. Já estávamos esperando que o taxista fosse cobrar o olho da cara, uma vez que ele deu a volta na cidade inteira. Mas não, ele se compadeceu da nossa situação e cobrou apenas o combinado. Um anjo!

Meia entrada só para quem eu quiser

Sempre usei a carteirinha de estudante de MBA para garantir meia-entrada, mas preferi levar a carteira internacional ISIC já sabendo que nem todo lugar reconhece as instituições brasileiras. Ao contrário de muitos brasileiros que se orgulhavam de mostrar a carteira de motorista como comprovante de estudos mesmo já tendo concluído seus trabalhos acadêmicos, apresentei o documento verdadeiro. Não é que a mulher do caixa do Kremlin não aceitou?

Não teríamos ficado com tanta raiva se isso fosse a única coisa que tivesse dado errado durante os dias que passamos por lá, mas já estávamos de saco cheio, doidos para voltar pra casa. Pagamos as duas entradas sem nenhum desconto, com um belo sorriso e um “vai tomar no“, que ela deve ter recebido como um “obrigado e tenha um bom dia”.

Uma bolsa abandonada no banheiro

Saindo do Kremlin, em Moscou, a poucos passos da estação de metrô havia um banheiro público. O Adriano precisava colocar mais uma blusa, visto que a temperatura estava cada vez menor, e foi até ele. Chegando lá ele percebeu que havia uma maleta grande no chão, encostada na parede e na hora pensou que pudesse ser de alguém que estava nas cabines.

As pessoas saíam e a maleta continuava lá até que praticamente todo mundo que estava no banheiro já havia saído e acabou que aquela maleta estava realmente esquecida ou deixada propositalmente. Como a Rússia passava por dias turbulentos em eminente conflito com a Síria e o Kremlin era um dos principais pontos turísticos da cidade, ele resolveu que seria melhor sentir um pouco de frio de trocar de blusa e saiu do banheiro. Melhor não arriscar, concorda?

Depois de ver uma bolsa abandonada no banheiro em plena Praça Vermelha de Moscou, achamos melhor dar no pé

Depois de ver uma bolsa abandonada no banheiro em plena Praça Vermelha de Moscou, achamos melhor dar no pé. Créditos: Gisele Rocha

Cenas de violência para crianças no Bunker-42

O Bunker-42 foi uma atração totalmente decepcionante para nós. Ao ler as revisões do programa, tivemos a impressão de que seria um passeio imerso a um abrigo antibombas real, e até era, mas na prática, o que pudemos perceber é que ele funcionava também como uma forma de mostrar as crianças o quão importante era a guerra para eles, e, cá para nós, enquanto caminhamos e lutamos para que o mundo seja pacífico em sua essência, por lá parece que eles estão na direção oposta. Depois de descer um elevador que levava a vários metros abaixo do solo, entrávamos num bunker real, construído com objetivos reais de guerra.

Dava para contar o número de adultos no meio das dezenas de crianças que pareciam estar vindo de alguma excursão de colégio. Durante o passeio, o guia tentava se mostrar empolgado ao apresentar os fatos históricos onde a Rússia triunfou em conflitos armados. Em uma das simulações, as crianças sentavam em cadeiras de frente para antigos computadores onde ali elas participavam do lançamento de uma bomba atômica. Seus rostinhos que pareciam angelicais naquela hora arregalavam os olhos de tanta empolgação, juntamente com a equipe do museu que os ensinava os passos para alinhar um míssil e dispará-lo. Nos três telões acima dos computadores, imagens de explosões eram exibidas aos berros e comemorações. Impossível esquecer a imagem de um escritório com pessoas trabalhando e a fumaça tomando conta do local, explodindo e “limpando” tudo que havia no prédio. Ônibus sendo lançados ao ar com pessoas dentro e outras cenas fortes compunham o final da simulação.

Aquele “treinamento” nos embrulhou e praticamente estragou o restante do passeio, que poderia ser muito interessante, caso o museu tivesse um trabalho voltado para a conscientização das consequências de uma guerra, como vimos no War Remnants Museum, no Vietnã. Depois dessa “aula” percorremos todo o bunker e conhecemos as salas onde os militares comandariam o país no caso de uma explosão nuclear no país, vimos os túneis e rotas de evacuação. De qualquer forma, por mais que pareça interessante, recomendamos passar longe.

Grupo de alunos que assistiu a cenas de violência no Bunker 42, em Moscou

Grupo de alunos que assistiu a cenas de violência no Bunker 42, em Moscou. Créditos: Gisele Rocha

Assédio no hostel II

Tivemos que voltar ao primeiro hostel, já que era a única opção que conhecíamos. O dono nos alocou em um quarto de casal e estávamos nos sentindo mais seguros. Ficaríamos ali por mais cinco dias apenas, depois voltaríamos para casa. Estava indo tudo bem até eu decidir sair do quarto sozinha para escovar os dentes antes de dormir.

Não estava de pijama, estava com calça comprida e blusa. Passei pelo corredor onde alguns caras estavam conversando, me olhando e rindo. Passei olhando para o chão e entrei no banheiro. Até que um dos caras veio atrás de mim e bateu a porta. Adriano estava no quarto e eu só tive tempo de cuspir a pasta e sair andando sem enxaguar a boca ou limpar a escova. Devo ter chegado mais branca que um fantasma, porque logo ele perguntou o que tinha acontecido. Combinamos que eu só sairia do quarto com ele.

Matador de aluguel

Em nossos últimos dias em Moscou, já em clima de despedida, conhecemos um casal do Brasil que nos contou uma história assustadora. Na ocasião eles estavam hospedados no mesmo hostel que nós e pediram ao recepcionista para indicar algum local onde eles poderiam sacar dinheiro. Em russo, o funcionário conversou com um rapaz que praticamente morava no albergue e esse por sua vez, arranhando um inglês terrível, disse que os levaria até um caixa eletrônico.

No caminho eles tentavam se comunicar até que o brasileiro perguntou ao russo o que ele fazia em Moscou e onde trabalhava. Ele que respondeu com um gesto feito com a mão em forma de arma. Os brasileiros não entenderam muito bem, mas o russo, com seu péssimo inglês, tentava explicar a eles que seu emprego era o de matador de aluguel.

Os brasileiros então agradeceram a oferta de ir até o caixa eletrônico, inventaram uma desculpa de que precisariam comer primeiro e despacharam o sujeito. Dá para imaginar o sufoco?

Sobre o recibo do taxi que comentei nos primeiros parágrafos, Adriano pediu para que eu não criasse confusão porque “esses russos são capazes de qualquer coisa“. E pelo visto ele estava certo.

Vale a pena visitar a Rússia?

Depois de todos esses perrengues você deve estar se questionando se a Rússia deve ser o seu próximo destino. Nós respondemos sem pestanejar: “Sim, não deixe de ir”.

Foi uma experiência cultural muito difícil, mas sempre válida. Aprendemos com isso tudo e tivemos sim alguns momentos de alegria a contemplação, já que ambas as cidades são maravilhosas. Quando tudo estiver dando errado, ao menos você pode entrar em um restaurante e comer o legítimo estrogonofe, ou comprar uma boa vodka no mercado e encher a cara.

Você gosta de um mal feito e adora ler sobre perrengues das pessoas. Então não deixe de ler os posts que os outros blogueiros escreveram sobre suas desventuras nos quatro cantos do mundo.

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Nossos 15 dias de desventuras na Rússia

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28 pensou em “Nossos 15 dias de desventuras na Rússia

  1. Nossa, eu fui lendo seu relato e lendo e não acabava mais. :O

    Que desespero… ainda bem que no final a recomendação de visitar a Russia ainda é válida.

  2. Gente oO olha, banho de arruda pra vocês! rs…

    Mas essa coisa de cultura superdiferente é assim, a gente tá sujeito a esses perrengues mesmo!

    E ah, Gisele, tenho um lenço de caverinha iguaaaal o seu, tenho muitas fotos com ele no blog, rs…

    Beijo! E saravá! (rs)

    1. Hahahaha… mas se a gnt só fizesse viagens certinhas, sem nada fora da expectativa, não teríamos histórias pra contar, né? Foi ruim, mas valeu a pena.

  3. Tenho muita vontade de conhecer a russia, mas escuto tanta história de perrengues assim que pra falar a verdade me desanima um pouco… Acho que um dia ainda irei, mas talvez em turma pra suportar melhor essas roubadas e não me sentir tão desprotegida!

    1. Não deixe de ir, Simone. Conhecemos muita gente que foi e gostou.
      O segredo é ir munida de boas companhias, muitos mapas e aplicativos pra não precisar pedir informações, pedir recomendações de hospedagem pra quem já foi (pq só olhar as avaliações não serviu de nada pra gnt) e ficar longe da polícia.
      Na pior das hipóteses, você também vai voltar cheia de histórias de novos perrengues. Hahaha

  4. Nossa gente, quanto perrengue! Tenho muita vontade de conhecer a Russia mas depois de ler tantos relatos de blogueiros acho que é o tipo de lugar que é melhor por a mão no bolso e gastar mais pra poupar as dores de cabeça. O país é culturalmente muito rico, mas tenho a impressao que não estao muito preocupados em agradar os turistas….rs

  5. Meu deusss!!!

    Esses perrengues rendem um livro inteiro!!! hahahahaha

    Antes de reclamar de qualquer coisa durante uma viagem vou lembrar da história de vocês!! xD

  6. Uau… que doideira! Mas sabe que eu não estou surpresa?! Convivi um bom tempo com uma família russa. Eles eram muito legais e instruídos mas, com o tempo, alguns aspectos culturais acabaram pesando e, aos poucos, fui me afastando. Hoje temos um contato cordial à distância. Eu tenho muita vontade de conhecer a Rússia, mas sei que será uma sucessão de perrengues. No Brasil, as pessoas podem não ter o domínio do Inglês, mas pelo menos têm a boa vontade e gostam de ajudar os estrangeiros… Ótimo post! Grande abraço!

    1. Pois é, Regina, foi exatamente uma cascata de perrengues. Pode ser que se a gnt fosse outra vez a experiência seria outra, mas agora nos falta coragem. Muito mundo pra ver antes de pensar em voltar lá.

  7. Menina, quanta chateação! Nossa experiência na Rússia foi bemmmm melhor! Os russos realmente não são fáceis, é um povo bem diferente, mas viajamos mais de 20 dias pelo país inteiro, na ferrovia transiberiana, e não passamos por nada pesado assim! Cada experiência é diferente, né?

  8. Nossa! que historia incrivel e empolgante hahahaha adoro ler perrengues de viagem, , tenho amigos russos que fiz nos estados unidos e no brasil, inclusive namorei uma russa. Sempre me trataram com muito amor e carinho!! sucesso!

    1. Elton, a gnt conheceu uma russa bem gnt fina, mas era o último dia da viagem. Talvez se tivéssemos encontrado uma pessoa como ela antes, toda a experiência tivesse sido diferente. Mas as cidades que conhecemos eram lindas, sem dúvidas.
      Ter história pra contar tbm é bom, né? Faz parte. Hehehhe

  9. Minha filha quer muito ir para a Russia após a copa, como somos em 3 pensei em fazer um mochilão, mas ja vi que não vai ser nada fácil. Não sei ainda tenho alguma esperança de que, com a copa, o inglês melhore um pouco por lá, mas a ideia é ficar em hotel mesmo, pelo menos na Russia.
    Pretendemos fazer a Escadinavia tb, tudo vai depender dos valores, mas seu relato ajudou muito a me preparar e não criar tanta expectativa.

  10. Então. Penso que a primeira coisa a dizer é que a gente nota o grau de desenvolvimento de um país pela qualidade dos serviços de baixo custo.

    No Brasil, grande parte das coisas muito baratinhas vai te levar pro hospital ou pra delegacia. Em terras brasileiras as pessoas devem pagar (caro) para ter segurança (em um sentido amplo). Na maior parte da Europa ocidental, não. Há um padrão mínimo de qualidade e segurança, infinitamente mais elevado que o padrão mínimo brasileiro. Nesses locais fazer viagem pobrinha pode ser simpático e seguro. No Brasil, não. Nem na Rússia.

    Eu nunca esqueço de uma coisa que me chamou a atenção em São Petersburgo. Em uma travessa da Nievsky, zona bem central, havia uma obra na calçada: uma vala de uns 1,5 m de profundidade e uns 80 com de largura, aberta no meio da calçada, em toda a extensão dela. A tubulação de alguma coisa. A terra retirada para abrir a vala cobria o que restava de calçada em volta da dita. Tudo umedecido pela garoa do outono báltico (nevava de vez em quando, também). Um sabão, super escorregadio.

    Na Europa ocidental ou nos EUA haveria um enorme esquema de segurança para os pedestres, vedando e sinalizando a vala. Em Sankt Peter? Nada. Tipo: “Se cuida aí, que se escorregar e cair vai dar ruim”. Rússia. Penso que em muitas capitais brasileiras seria igual.

    Hostel na Rússia? Sério? Vou mandar fazer um colante: “Hostel russo, eu acredito”. Não é possível.

    Também: chegar de madrugada e querer o hostel todo aberto esperando vocês? Sério isso??? (hotéis simples são mais baratos entre outras coisas por não funcionarem 24hs, tem de chegar de dia, óbvio).

    Desembarquei no Pulkovo (aeroporto de São Petersburgo) e logo vi um serviço de pagamento antecipado de táxi, como sempre uso no Brasil. Foi ótimo. Sentar no táxi e esperar relaxado o dito chegar na porta do meu hotel. Delícia.

    Fiquei em Sankt Peter em um hotel muito bom (booking.com, sempre – isso há 10 anos), um quarto excelente (novo, elegante, grande, bem mobiliado, um cortinado de cinema, excelente calefação, bom wifi) e um amplo salão onde era servido o café da manhã com russices deliciosas (servia almoço também, pago à parte, comi lá uma vez).

    Mas o hotel era simples o bastante para a entrada ser uma porta comum, na rua, dessas de casa mesmo, com uma plaquinha em cima. Essa porta discreta dava acesso a uma escadaria estreita, que por sua vez dava na pequena recepção (uma mesa), que obviamente não funcionava à noite. O hotel ocupava um andar de um edifício comercial. O próprio hóspede carregava a mala pela escadaria acima, que tinha bem mais de 30 degraus. E na saída, escada abaixo também. Ou seja: bem mais barato que os hotéis formais de portas giratórias, carregadores de uniforme e elevadores espelhados, mas muito mais seguro (e confortável) que um hostel.

    E quer saber: eu tinha de pegar meu trem para Moscou (Mockba) de manhã muito cedo e sabia que àquela hora não haveria ninguém na portaria (óbvio!). Então fechei a conta no começo da noite anterior, paguei tudo e tal, antes da mocinha da recepção ir embora. Ninguém me pediu isso, mas era óbvio! Ela me orientou a, na manhã seguinte, deixar a chave com o guarda da noite e pronto. E foi o que fiz. Ao sair (ainda noite lá fora), preparando-me para carregar minha malas escada abaixo, vejo o tal guarda noturno vir correndo na minha direção (xiiiiiiii). Ele (que não falava nada além de russo, claro) me entrega então um saco de papel meio grande. Abro. Um iogurte de beber, uma maçã, um sanduíche tipo misto frio, um suco de caixinha, um pedaço de bolo numa caixa, guardanapos. Emocionei. Hotel fofo.

    Tudo maravilhoso, então, em solo russo? Claro que não! Um motorista de táxi praticamente me sequestrou na estação de trem de Moscou, catou minha mala e não tive muita saída (no trem, pouco antes de chegarmos, eles ofereciam um serviço seguro, mas eu estava conversando com um casal de franceses e me passou). Paguei um valor que, depois vi, era umas 10 x o valor real da curta corrida entre a estação e meu hotel moscovita. Quando parti de Moscou pedi um táxi no hotel (esse era de porta giratória, espelhos por todo lado, caro pacas – Moscou é caríssima – mas bem localizado e seguro) para o distante aeroporto Domodedovo (uns 35 km) e o valor (em carro de luxo) foi metade do que o outro me cobrou nos 2 km da estação ao hotel. Bom, pelo menos o carro do golpista era ótimo, também.

    De resto, a Rússia é de fato difícil. Problemas ao tirar fotos, pouca gente falando inglês (há muita gente falando italiano, ao contrário do post, uma situação surpreendente!), metrô complicado por ser super lotado e eles não terem paciência com gente perdida… Quando ao cirílico, obrigação aprender. Não o idioma, o som das letras. Facilita muito. Nem pensar em viajar para lá sem aprender o som das letras do cirílico.

    Vale a pena, mas com um mínimo de estrutura. Querer fazer viagem precária pra Rússia… não dá.

  11. Ualllllll, perrengue atrás de perrengue.. só de ler fiquei aflita me imaginando no lugar de vcs!
    Planejo ir pra lá no próximo ano, sozinha, acho melhor ficar num hotel mesmo né? Não tem muita segurança nos hostels pelo visto. Em quais exatamente vc ficou?
    Será que agora, depois da Copa, as coisas melhoraram por lá? Será que falam inglês ou são mais simpáticos?
    #medo hahahha
    Adorei o relato!
    Abraços

  12. Ahhh e outra coisa, não sei se vcs costumam fazer, mas não tentaram couchsurfing? Busquei aqui e há hosts em Moscou e San Petersburgo.. Diante de tudo que relataram acredito que seja a melhor opção né? O que vcs acham?

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