Buenos Aires não era o destino final desta viagem, tampouco era a minha primeira vez por aqui. Já tinha estado na capital da Argentina muitos anos antes, visitei as melhores feiras de antiguidades e artesanato, descobri inúmeras atrações gratuitas, dancei uns tangos e ainda sobrou tempo para fazer alguns bate e voltas. Mesmo depois de cumprir todo esse itinerário intenso, ainda tinha muito o que conhecer, principalmente em Palermo, o bairro mais colorido da cidade.
Aproveitei uma conexão de 19 horas que faria em Buenos Aires a caminho de Ushuaia para passear sem roteiro e sem compromisso, fotografando grafites e o que mais saltasse aos olhos. Como cheguei pelo Aeroparque Jorge Newbery e pegaria um voo no mesmo lugar na manhã do dia seguinte, resolvi me hospedar em Palermo mesmo, no aconchegante Palermo Viejo B&B, que tinha a localização perfeita para que eu pudesse fazer o meu próprio walking tour da arte urbana, que divido com vocês agora.
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A Arte Urbana em Buenos Aires
A arte urbana deu seus primeiros passos em Buenos Aires ainda na década de 1960, com propagandas políticas e frases-respostas, que reproduziam toda a rebeldia daquela época. Nas duas décadas seguintes, foi abafada pela ditadura, que reprimia todas as formas de protesto. Depois voltou com força total nos anos 1990 e ganhou cada vez mais espaço e admiradores, que hoje não classificam mais os desenhos como atos de vandalismo, mas como expressões artísticas.
As construções antigas de Palermo, projetadas com influência da arquitetura europeia, foram repaginadas com desenhos diversos. Quase não há mais espaços em branco. Artistas renomados e amadores cobriram os muros com obras de arte urbana que expressam os sentimentos da comunidade, que vão desde raiva pela corrupção e desinteresse por parte dos governantes do povo, frustração por amores não correspondidos, frases de empoderamento feminino, igualdade de direitos para a população LGBT e fim do preconceito contra as minorias. Nenhum grafite está ali para enfeite.
Estes são os meus favoritos:
1 Likes don’t feed
Uma clara crítica aos “engajados do Facebook”, que se mobilizam apenas a curtir e compartilhar fotos de pessoas em situações vulneráveis, mas não se movem para ajudá-las de verdade. Na imagem, uma criança está sentada em uma montanha de likes tentando comer um deles, sem sucesso. A obra é de um (ou uma) artista de origem e nome desconhecidos, que embora trabalhe no anonimato, já deixou a sua marca nos quatro cantos do mundo, incluindo cidades como Buenos Aires, Berlim, Munique, Hamburgo, Colônia, Svendborg, entre outras cidades na Nova Zelândia, Canadá, Suécia, e por aí vai.
Calle Nicaragua, 5176
2 Ni una menos
Impactante e perturbadora. Assim podemos classificar esta obra de Juan Iesari, um grito de repúdio contra a violência de gênero.
Ni una menos é o nome de uma marcha que aconteceu de protesto contra o feminicídio (assassinato de mulheres) e proteção às vítimas de violência em várias cidades da Argentin, Chile e Uruguai em junho de 2015. Voltou a se repetir em 2016 depois do assassinato de Chiara Páez, de 14 anos, grávida, e de Lucía Pérez, de 16 anos, que foi drogada, estuprada e empalada. A marcha foi amplamente divulgada inclusive na mídia internacional.
Esquina entre Calle Nicaragua e Fray Justo Sta. Maria de Oro
3 Greenpeace Artico
Obra de Alfredo Segatori executada por um grupo de mais de 100 pessoas que retrata o dano ambiental no Ártico causado por empresas petrolíferas. Na imagem, um urso polar e uma plataforma de petróleo.
Avenida Juan B. Justo
4 Abrí los Ojos
Entre os artistas convocados pelo Greenpeace está Ale Acuña, que fez uma crítica muito clara a Shell, empresa petrolífera que está fazendo mudanças devastadoras no Ártico. O objetivo dos artistas é “tornar visível o invisível” e assim o desenho faz um apelo: “abra os olhos”. Na imagem, um esquimó chora petróleo.
Avenida Juan B. Justo
5 Buda de la Abundancia
Pouco antes de chegar ao Mercado de Pulgas encontrei esse Buda sorridente feito pelo Gualicho. Em entrevista ao site BA Street Art o artista disse que a obra tem como objetivo trazer sorte e abundância, mas que cada um pode interpretar de uma forma, de acordo com suas crenças.
Esquina entre Niceto Vega e Avenida Dorrego
6 Snoop Dogg
Os artistas Byga Rey e Emiliano Franco conseguiram convergir duas formas de expressão em uma quando retratou o movimento hip hop em um grafite. O ritmo que já foi tão marginalizado quanto o ato de grafitar, hoje alcança todos os tipos de público, servindo como canal de comunicação entre a periferia e a elite. A riqueza de detalhes é impressionante! Na imagem, o rapper Snoop Dogg e um carrão tunado.
Esquina entre Avenida Coronel Niceto Vega e Uriarte
7 Cosmos
Uma boate em Palermo quis provar que todo o Universo cabelo em um lugar só. Essa foi a mensagem que tirei do grafite feito por Tekaz. A obra de arte foi toda feita em aerosol e foi concluída em junho de 2015.
Calle Honduras, 5916
8 Frida em flores
Mural de 9 metros de altura e 7 metros de largura feito por Campos Jesses ilustrando a artista mexicana Frida Kahlo, símbolo da mulher guerreira. Foram necessárias três semanas para finalizá-lo.
Avenida Dorrego, 1735
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Muito bom o post. Amo arte de rua de paixão e Buenos Aires é mesmo um caldeirão de inspiração pra quem curte esse tipo de expressão. Adorei a lista de vocês!
Muito legal!! Dentre os murais que você compartilhou o da Frida Kahlo foi o que eu mais gostei.
Apesar de controverso em muitos lugares o street art é uma manifestação artística repleta de crítica social e que diz muito sobre o cotidiano de um lugar. Obrigado por compartilhar
Que bacana, adorei os murais, os likes do facebook, a luta no Ártico e o da Frida Kahlo, que ficou sensacional! Parabéns pelo belo post!
Adoro arte urbana e esses murais são lindos demais! Que bom que conseguiu aproveitar o tempo de uma conexão para passear na cidade sem compromisso. Ótima estratégia.
Gisele, adorei seu post! As informações sobre cada mural enriquecem as imagens, parabéns pelo capricho!
Adorei a número 2 “Ni una Menos” muito realista a pintor com a expressões da modelo. Arte de rua deixa a cidade menos cinza.
Gostei demais desse post Gisele, ainda mais porque sou fã da cidade, e sempre que posso gosto de ir a Buenos Aires, quando morava no Brasil sempre dava um jeito pra ir a um show de rock argentino ou até mesmo ir às feiras locais, gosto muito do estilo das ruas, principalmente em San Telmo e Palermo!
Amo street art e fiquei fascinada com o seu post. Cada trabalho mais lindo que hoje. Um roteiro muito bacana pela ruas de Palermo.
Obrigada, Lulu! Palermo é o bairro mais criativo de Buenos Aires a meu ver. Gosto muito de me hospedar lá e fazer passeios sem rumo.